Sexta-feira, 20 de Junho de 2025

Home Economia Economistas criticam projeto de “Estado indutor” defendido por Lula

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Por trás do lançamento do novo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), está a ideia defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que cabe ao governo liderar ou “induzir” os investimentos no País, como ele preferiu dizer desta vez, para alavancar o crescimento econômico.

Foi assim no segundo mandato de Lula, de 2007 a 2010, com o PAC 1, quando o governo realizou pesados investimentos para amenizar os efeitos da crise no mercado americano de hipotecas. Continuou assim nos governos Dilma, de 2011 até o impeachment, em agosto de 2016, com o PAC 2, para tentar segurar o crescimento registrado no fim da gestão de Lula com o uso dos anabolizantes governamentais. E agora, com o lançamento do novo PAC, tudo indica que será assim também, no governo Lula 3.

Mas, quando se observa o que aconteceu nos últimos anos, essa visão não “bate” com a realidade. Segundo dados do IBGE, a taxa de investimento no País subiu de forma considerável em 2021 e em 2022 mesmo com os investimentos públicos chegando aos níveis mais baixos da história, ao mesmo tempo em que a economia mostrou um vigor que surpreendeu muitos analistas de mercado.

Outro papel

De acordo com o IBGE, a taxa de investimento fechou os dois anos roçando os 19% do PIB (Produto Interno Bruto), patamar mais alto desde 2014, graças aos investimentos do setor privado, que mais do que compensaram a retração nos aportes governamentais. No mesmo período, a alta acumulada pelo PIB (Produto Interno Bruto) chegou a 8% (5%, em 2021, e 2,9% em 2022).

Na avaliação de economistas, essa combinação de crescimento vigoroso com investimentos em alta, num cenário de redução nos aportes do setor público, deveu-se essencialmente à criação de um ambiente mais favorável aos negócios a partir de 2017, com a aprovação da reforma trabalhista e dos novos marcos regulatórios do saneamento, navegação de cabotagem, ferrovias e gás natural, que vão na direção oposta do protagonismo estatal preconizado pelo atual governo.

“O Estado querer liderar os investimentos é uma estratégia que já se mostrou um fracasso. A economia não ganhou produtividade com os investimentos feitos pelo PAC no passado”, diz Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter. “Hoje, o setor privado, principalmente as grandes empresas, pode se financiar por meio do mercado de capitais, que cresceu muito. Então, eu diria que o novo PAC é desnecessário para a promoção de investimento.”

“Para o investimento privado crescer, o que você tem de fazer é gerar os incentivos corretos, que são dados pela regulação bem feita”, diz José Márcio de Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos. “O caso do saneamento é paradigmático. O governo, com aval do Congresso, criou uma regulação que mostrou aos empresários que essa é uma área na qual eles devem lucrar se investirem – e desde a adoção do novo marco regulatório do setor, em 2020, ja houve a aprovação de R$ 98 bilhões em novos projetos.”

Além da força demonstrada pelo setor privado, é preciso levar em conta também, de acordo com Rafaela, que o Orçamento federal já está no vermelho e que o governo terá de se endividar mais para bancar os investimentos que pretende realizar.

“Investimento também é gasto. Mesmo que uma parte fique fora do resultado primário, como pretende o governo, a dívida pública vai aumentar do mesmo jeito, porque há um déficit no Orçamento”, afirma. “A gente já viu esse filme antes, de querer fazer maquiagem contábil para melhorar o resultado primário, mas no fim isso acaba batendo na dívida.”

Para ela, isso não significa que o governo não deve realizar investimentos. Afinal, conforme os cálculos dos economistas, o Brasil precisa ter uma taxa de investimento de 25% ao ano para crescer de forma sustentável e melhorar sua infraestrutura e a qualidade de vida da população.

Rafaela diz, porém, que esse investimento deveria ser marginal e se concentrar no que não desperta interesse na iniciativa privada. “Existem obras públicas que são relevantes, para as quais o governo pode dar a sua contribuição”, afirma.

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