Sábado, 20 de Abril de 2024

Home em foco Em uma semana, ataques mudaram o curso da História

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A exemplo da Queda do Muro de Berlim e dos atentados do 11 de Setembro, a guerra de destruição movida contra a Ucrânia por Vladimir Putin mudou o mundo. Em poucos dias, velhos pressupostos vieram abaixo, um curso histórico foi trocado por outro. Atrocidades de escala jamais vista desde as guerras da década de 1990 na Iugoslávia e, antes disso, desde a Segunda Guerra Mundial, voltaram a assombrar a Europa. O regime de Putin tornou-se, da noite para o dia, um pária. Os laços econômicos, comerciais, esportivos e culturais com a Rússia, formados ao longo de décadas, foram desatados.

As democracias se viram lançadas a novas dificuldades para defender seus valores. Os historiadores vão discutir por muito tempo os motivos da agressão de Putin e a maneira pela qual restou ao Ocidente a terrível escolha entre assistir, como testemunha impotente, ao horror perpetrado sobre os ucranianos ou, por meio da intervenção, correr o risco de provocar uma conflagração global.

O que se testemunhou em Kharkiv ou Mariupol desde 24 de fevereiro pode ser seguido por algo muito pior, como alertou Emmanuel Macron, o presidente francês, após um telefonema ao dirigente russo na semana passada. Ao resistir sem ajuda, os ucranianos são um exemplo de coragem e dignidade. O presidente Volodymyr Zelensky encarnou essas qualidades.

Ao revisitar o manual de estratégia dos piores ditadores do século 20, Putin catalisou a infusão de um novo senso de finalidade, unidade e determinação em instituições como a União Europeia (UE) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Os políticos ocidentais estão redescobrindo seu rigor.

A Otan aceitou sua impossibilidade de impor uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia que a jogaria em conflito direto com uma Rússia dotada de armas nucleares. Mas está sendo prometida ajuda militar à Ucrânia. A Alemanha derrubou sua proibição à exportação de armas a zonas de conflito para poder fornecer mísseis antitanque. A UE quebrou um tabu ao concordar em financiar compras de armas.

Sanções financeiras, ao banco central e a instituições de crédito comerciais de Moscou, foram impostas como nunca antes contra uma economia desse porte. O rublo está despencando fragorosamente; nas transações externas as ações de algumas empresas russas dominadas pelo governo perderam mais de 90% de seu valor.

O céu que rodeia a Rússia está se fechando para os seus próprios aviões. Empresas, mesmo as de países com laços anteriormente sólidos como Alemanha e Itália, estão se retirando. Pouco a pouco a Rússia está sendo alijada do sistema comercial e financeiro global.

Essa pressão é necessária para privar Putin dos recursos necessários para sustentar sua agressão e para tentar mudar seu cálculo. Os russos comuns, infelizmente, embora inevitavelmente, sofrerão com seus efeitos, mas os países ocidentais devem deixar claro que eles não são o alvo direto. Outras formas de isolamento – o distanciamento em relação às equipes esportivas da Rússia e a personalidades culturais tidas como favoráveis à guerra de Putin – também são compreensíveis. A pressa em se descolar não deve, no entanto, se tornar uma reação adversa a todas as coisas russas e a todos os russos.

A briga das democracias é com os dirigentes russos, não com a grande massa de sua população que não está envolvida com a guerra. Os russos elegeram Putin quatro vezes como presidente, mas num sistema essencialmente manipulado, que exclui opções autênticas e num ambiente de mídia que cria um mundo do espelho dos contrários [como em “Alice no País das Maravilhas”], de mentiras. Quase ninguém sequer sonhou que Putin desfecharia uma guerra total contra uma nação irmã.

Mas, apesar da carnificina que ele originou, o oposto exato do que Putin queria se realizou: uma comunidade ocidental mais unida e determinada, com maiorias, pela primeira vez, na Suécia e na Finlândia em favor de ingressar na Otan. Isso é um consolo imediato pequeno para os que foram pegos, sozinhos, no fogo cruzado da geopolítica. Mas deixa o dirigente russo em posição cada vez mais perigosa, com uma base de apoio capaz de começar a se esfacelar.

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