Quarta-feira, 26 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 25 de novembro de 2025
Cerca de 15 anos atrás, o gastroenterologista Andrew T. Chan, do Mass General Brigham, em Boston, percebeu que cada vez mais pacientes com câncer colorretal eram mais jovens do que o habitual. Muitos tinham entre 20 e 40 anos, em contraste com o perfil típico de pacientes na faixa dos 60 ou 70 anos. A observação fazia parte de uma tendência que especialistas ainda tentam explicar: as taxas de câncer colorretal vêm aumentando de forma consistente entre pessoas com menos de 50 anos.
Em um estudo publicado no JAMA Oncology, Chan e sua equipe sugerem que o consumo crescente de alimentos ultraprocessados pode ter relação com esse fenômeno. A pesquisa acompanhou mulheres de 20 a 40 anos e constatou que aquelas que consumiam maiores quantidades desses produtos apresentavam risco mais elevado de desenvolver pólipos colorretais pré-cancerígenos, pequenos aglomerados de células que podem evoluir para câncer antes dos 50 anos. Entre os alimentos analisados estavam refrigerantes açucarados, carnes processadas, doces, salgadinhos e outros itens com ingredientes pouco comuns em cozinhas domésticas.
“O estudo foi amplo e o primeiro a analisar como os alimentos ultraprocessados podem influenciar o desenvolvimento de pólipos colorretais em pessoas com menos de 50 anos”, comenta Nancy You, cirurgiã colorretal do MD Anderson Cancer Center, no Texas, que não participou da pesquisa. Ela afirmou que os resultados ajudam a contextualizar por que as taxas desse tipo de câncer estão subindo entre adultos jovens, mas lembrou que o estudo aponta uma associação, e não prova de causalidade.
O levantamento acompanhou mais de 29 mil enfermeiras, de 1991 a 2015, que tinham entre 25 e 40 anos no início da pesquisa. Elas preencheram questionários dietéticos a cada quatro anos e fizeram ao menos uma colonoscopia antes dos 50 anos. As participantes que consumiam mais alimentos ultraprocessados — cerca de dez porções por dia — tinham 45% mais probabilidade de apresentar o tipo mais comum de pólipo pré-canceroso, o adenoma convencional, do que aquelas que ingeriam cerca de três porções diárias. Entre os produtos mais consumidos estavam pães fatiados e cereais matinais, molhos e condimentos industrializados e bebidas açucaradas.
“Ter esse tipo de pólipo não significa necessariamente que o câncer irá se desenvolver, mas aumenta o risco”, afirma Chan. A gastroenterologista Robin Mendelsohn, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, destaca porém uma limitação: “O estudo foi feito com um grupo muito específico, formado majoritariamente por enfermeiras brancas, e precisa ser repetido em outras populações”.
Mesmo assim, as conclusões se alinham a pesquisas recentes envolvendo adultos de diferentes idades. Nos últimos anos, diversos estudos encontraram relações consistentes entre dietas ricas em ultraprocessados, pólipos pré-cancerígenos e câncer colorretal. A epidemiologista nutricional Marian L. Neuhouser, do Fred Hutch Cancer Center, ressalta que a classificação dos alimentos foi um desafio. “Foi difícil determinar se alguns itens, como waffles, tortas e pipoca, eram ultraprocessados ou artesanais, o que pode afetar a precisão dos dados”, diz.
A razão para o possível vínculo ainda não está clara. Pesquisadores apontam que o consumo frequente desses alimentos pode aumentar o risco de obesidade e diabetes tipo 2, duas condições associadas ao câncer colorretal de início precoce. “Dietas ricas em ultraprocessados também podem desequilibrar a microbiota intestinal e danificar o revestimento protetor dos intestinos”, afirma Chan.
Neuhouser pondera, no entanto, que não há evidências suficientes para recomendar a eliminação completa desses alimentos. Alguns ultraprocessados podem, inclusive, fornecer nutrientes associados a menor risco de câncer colorretal, como certos iogurtes ricos em cálcio e pães e cereais integrais que oferecem fibras.