Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 3 de novembro de 2024
Responsável por cunhar o termo “lulismo”, o cientista político André Singer considera que o principal sinal das eleições municipais deste ano para a disputa presidencial em 2026 foi a divisão do campo da direita, marcada especialmente pela candidatura de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo. Ex-secretário de Imprensa e porta-voz do primeiro governo Lula, ele avalia ainda que o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoiou a candidatura de Ricardo Nunes (MDB) desde o início, emergiu vitorioso dessa divisão, sendo “o grande vencedor da eleição de 2024”.
Como o sr. avalia o desempenho da esquerda nas eleições municipais deste ano?
Vejo dois critérios para avaliar essa questão. O primeiro seria o conjunto de partidos que podemos chamar de campo da esquerda: PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB e Rede. Por esse critério, o desempenho não foi bom. Talvez o melhor momento desse campo tenha sido em 2012, quando o governo dirigido pela ex-presidente Dilma (Rousseff) estava com uma aprovação de ótimo e bom de 56%. Considerando o número de prefeituras, esse campo fez nestas eleições aproximadamente metade das prefeituras que fez em 2012. O segundo critério seria avaliar algumas eleições em capitais significativas, como Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo. Com base nesses dois critérios, diria que o desempenho da esquerda não foi bom.
Alguns acreditam que o discurso tradicional da esquerda já não ressoa entre a população de baixa renda, que valoriza temas como empreendedorismo e, muitas vezes, vê o Estado como um obstáculo. O sr. concorda com essa visão?
A proposta principal da esquerda é que o Estado deve agir para beneficiar as camadas populares. No entanto, pode estar em curso uma transformação dentro dessas camadas, por meio da qual certos setores enfrentam necessidades específicas que exigem um desdobramento dessa concepção geral. O apoio do presidente Lula entre as camadas de menor renda, na base da pirâmide, permanece mais alto do que a média. Portanto, a base social do lulismo se mantém. Contudo, pode haver uma transformação em camadas que não são exatamente as da base, mas que, de fato, requerem o que eu chamaria de uma especificação do discurso ou dessa concepção geral. Para antecipar um tema que pode surgir depois, essa transformação pode ter encontrado expressão em uma candidatura como a de Pablo Marçal.
Em 2023, o sr. afirmou que o presidente Lula precisa reconquistar o que já foi a “nova classe C”. Ele tem conseguido fazer isso?
Com base nos dados que encontrei sobre renda e avaliação do governo, minha resposta seria não. O que me chamou a atenção foi que, entre aqueles que consideram o governo Lula ótimo ou bom, a proporção aumenta significativamente até a faixa de dois salários mínimos, mas cai drasticamente acima desse valor. Sendo absolutamente técnico, eu diria que não.
Quais sinais a eleição de 2024 indicou para 2026?
O primeiro sinal é de uma profunda divisão no campo da direita, marcada pela candidatura de Pablo Marçal – que ninguém imaginava que aconteceria. Essa divisão separa uma extrema direita que não abre mão de suas características de uma direita com um perfil diferente. E, digamos, o personagem que emerge desse cenário é o governador Tarcísio de Freitas, possivelmente o grande vencedor da eleição de 2024, considerando que São Paulo é um termômetro político. Agora, veremos como ele lidará com essa divisão.
Bolsonaro sai como derrotado dessas eleições?
Ele não sai propriamente como derrotado, mas como líder de um campo importante, o da extrema direita. A eleição de 2024 demonstrou que esse campo permanece relevante no Brasil, mas não é majoritário. E nem é um campo sobre o qual ele exerça liderança indiscutível, pois o que Marçal fez foi mostrar, para usar uma expressão minha, que existe “bolsonarismo sem Bolsonaro”.
Tarcísio se projeta para 2026 como representante da extrema direita ou de uma direita mais moderada?
Ele se projeta como um líder bolsonarista. Embora tenha contestado Bolsonaro em alguns pontos, nunca rompeu completamente com ele, fazendo questão de afirmar, até o fim, que “Bolsonaro faz parte desta coalizão que está levando Ricardo Nunes à reeleição”. A compreensão de Tarcísio, que é correta, é que esse bloco precisa estar unido para vencer. Valdemar Costa Neto disse ao Estadão que, sem unidade, a extrema direita não vence – e está correto. Tarcísio se apresenta como um líder bolsonarista, mas enfatiza que não é possível vencer sem união. Agora, se ele conseguirá alcançar essa unidade, não sei.
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