Sábado, 13 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 12 de setembro de 2025
Os juros básicos no nível mais alto em quase duas décadas, de 15% ao ano, estão provocando estragos nas finanças de empresas e consumidores, que enfrentam crescente dificuldade para manter suas contas em dia. O número de empresas e de pessoas físicas inadimplentes atingiu um nível recorde este ano.
Em julho, o Brasil somava 8 milhões de empresas (um terço das companhias existentes) com dívidas em atraso. No caso dos consumidores, eram 78,2 milhões de brasileiros (quase metade da população adulta) inadimplentes, segundo a Serasa Experian, datatech especializada em dados e informações financeiras. Em ambos os casos, é a maior marca desde o início da série, em 2016.
Cada brasileiro negativado tinha, em média, quatro dívidas com pagamento atrasado e cada empresa inadimplente sete compromissos não honrados. “O cenário de dívida média por CPF (Cadastro Nacional de Pessoa Física) e CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) mostra o quão difícil é para o consumidor e para a empresa sair da situação de inadimplência”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe Serasa Experian.
A inadimplência segue em níveis recordes entre consumidores e empresas, mesmo em um cenário de desemprego na mínima histórica e de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ainda que em desaceleração trimestre a trimestre. Ou seja, apesar das condições que poderiam favorecer a queda do calote, ele continua em alta.
Camila atribui o aumento da inadimplência à elevação dos juros básicos. Entre setembro de 2024 e junho deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou os juros para conter a alta da inflação. E agora a alta da Selic está se manifestando na atividade.
Mesmo com o BC tendo interrompido a alta dos juros em junho, Camila diz que as consequências do aperto monetário serão observadas nos próximos três trimestres, por causa da defasagem que há entre as decisões de política monetária e os efeitos na economia real.
O ambiente mais apertado na aprovação de novas concessões de crédito também agrava o quadro da inadimplência, observa a economista. É que a desaceleração no ritmo de aprovações de concessões acumuladas em 12 meses, tanto para o consumidor como para empresas, tem sido um obstáculo para quem precisa renegociar dividas.
A dificuldade enfrentada pelo brasileiro para pagar em dia as dívidas está na redução da renda líquida. Ou seja, o que sobra de fato no bolso do consumidor diminuiu, segundo Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, associação que reúne as financeiras.
Além da alta dos juros, ele aponta dois fatores que deprimem a renda líquida: a inflação elevada e as apostas esportivas. “A inflação, ao longo desses últimos meses, tirou poder aquisitivo do orçamento, principalmente de famílias de média e baixa renda, e há comprometimento de uma parte significativa do orçamento com as bets”, afirma o economista.
O último relatório de crédito do Banco Central trouxe números preocupantes. A inadimplência de empresas e consumidores na modalidade crédito livre (com destinação não regulada pelo governo) atingiu em julho 5,2% do saldo a receber pelo sistema financeiro. É o maior nível em oito anos, desde junho de 2017.
Em julho, a inadimplência do consumidor nessa modalidade de financiamento foi de 6,5%, com alta de 1,2 ponto porcentual no acumulado deste ano. No caso das empresas, a inadimplência de financiamentos com recursos livres atingiu 3,3% e já subiu 0,8 ponto porcentual no ano até julho.