Sábado, 07 de Setembro de 2024

Home em foco Ministério das Relações Exteriores do Brasil trabalha para reabrir canais de diálogo com o mundo

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Eleito presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi claro ao dar sua primeira instrução ao experiente embaixador Mauro Vieira, quando decidiu nomeá-lo ministro das Relações Exteriores: a prioridade máxima precisava ser reabrir canais de diálogos bloqueados. Uma tarefa e tanto, depois que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afastou o Itamaraty de suas tradições na primeira metade de sua gestão e colecionou atritos, mas que norteou os trabalhos da pasta nos primeiros cem dias do novo governo.

As movimentações de Lula e do próprio ministro Mauro Vieira têm sido intensas. E isso não fez com que o Ministério das Relações Exteriores se afastasse de dois outros objetivos fixados para este período dos cem dias. Um deles foi a reestruturação interna do Itamaraty, com a valorização novamente de áreas como meio ambiente, clima, energia, promoção comercial e cultura. O governo também encaminhou ao Senado a indicação de diversos embaixadores de primeira linha que haviam sido designados para postos sem muita visibilidade por Bolsonaro.

O outro objetivo foi a recuperação dos paradigmas tradicionais da política externa brasileira, sendo um deles o não alinhamento automático a um determinado parceiro, como vinha fazendo Bolsonaro em relação, por exemplo, aos Estados Unidos. O recado foi dado logo de cara pelo chanceler, em seu discurso de posse:

“Com os Estados Unidos queremos relações em pé de igualdade, baseadas em valores e interesses comuns, sem qualquer tipo de preconceito sobre temas e assuntos, e isentas de alinhamentos automáticos. Desejamos dinamizar nosso relacionamento econômico e atrair investimentos, bem como continuar a fortalecer os laços humanos, culturais e educacionais que unem as duas sociedades. Trataremos de maneira madura eventuais diferenças, naturais em uma relação com essa importância e densidade”.

Agenda internacional

Tal maturidade pôde ser observada na lista de destinos do presidente. Ao mesmo tempo em que se recusou a ter uma postura mais crítica à Rússia por causa da guerra na Ucrânia, Lula colocou Washington entre as suas primeiras viagens internacionais, depois de visitar Argentina, Uruguai e ter encontros com líderes de países latino-americanos.

Ao todo, durante esses cem dias, o presidente manteve reuniões de trabalho com 16 chefes de Estado e governo. Falou por telefone com outros 14, todos eles considerados parceiros estratégicos de diversas regiões do globo. Já o chanceler teve 65 reuniões com 51 ministros das Relações Exteriores e diversas outras agendas com líderes estrangeiros ou dirigentes de organismos internacionais.

Para coroar a marca de cem dias, Lula embarcaria rumo à China no fim de março acompanhado de uma grande comitiva de ministros e empresários. Teve que adiar a visita, depois de ser diagnosticado com uma pneumonia. Contudo, a rapidez com que a visita oficial brasileira foi remarcada por Pequim surpreendeu especialistas: ela ocorrerá na semana que vem, num sinal de que os chineses consideram o Brasil um parceiro estratégico.

“A sinalização é extraordinária. A China está dizendo que conversar com o Brasil está no alto das prioridades”, diz o conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) Marcos Azambuja, ex-secretário-geral do Itamaraty e ex-embaixador do Brasil na Argentina e na França.

Avanço recorde

“A política externa foi a coisa que mais avançou nesses primeiros cem dias de governo Lula. Aliás, a única que coisa que avançou”, aponta Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres e Washington. Ele elogia a disposição de Lula de reposicionar o Brasil na cena internacional, colocar o meio ambiente no centro das preocupações do governo e, em terceiro lugar, dar a devida prioridade “ao nosso continente”.

Por outro lado, prossegue Barbosa, o país deveria explicitar, inclusive divulgando um amplo documento, qual é o espaço que quer ocupar no mundo, sua estratégia e posições sobre temas que, sem o Brasil, não há como o mundo discutir a sério: meio ambiente e mudança climática, segurança alimentar e energia renovável.

O Brasil vai ainda assumir no segundo semestre a presidência do Mercosul, num momento em que o bloco enfrenta o risco de ver o Uruguai assinar acordo bilateral com a China e as negociações com a União Europeia claudicam. Em maio, está prevista a participação de Lula na reunião do G7, o grupo dos países mais industrializados do mundo, no Japão. Convite igual a esse não ocorria desde 2009.

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