Terça-feira, 17 de Setembro de 2024

Home em foco Na prisão, ex-ministro da Justiça enfrenta a depressão e o abandono

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O ex-ministro da Justiça Anderson Torres está passando por maus momentos. Desde que foi preso por suspeita de atuar num plano golpista que resultou nos ataques de 8 de janeiro, a vida dele virou de cabeça para baixo. Delegado da Polícia Federal, ele passou de investigador a investigado. Depois de quase três meses de detenção num quartel militar em Brasília, o ex-ministro, segundo relato de pessoas próximas, está fragilizado emocionalmente, doente e se diz abandonado pelos amigos e antigos colegas.

O local da prisão fica a 15 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, onde ocorreram os atos extremistas. Na ocasião, Anderson ocupava o cargo de secretário de Segurança do DF. A suspeita é que o ex-delegado teria se omitido ou mesmo ocultado informações que permitiram as manifestações que culminaram na depredação dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

Recentemente, ele foi informado por uma irmã que a mãe havia voltado a fazer quimioterapia contra um câncer que ressurgiu após sua prisão. Desse dia em diante, Anderson entrou em um estado de tristeza profunda, chora constantemente, mal se alimenta e já perdeu 12 quilos.

O ex-ministro optou por não receber na prisão a visita das duas filhas menores, de 9 e 11 anos de idade, que deixaram de frequentar a escola depois da prisão do pai. A única filha que esteve no quartel foi a mais velha, de 13 anos de idade. Durante as visitas, todos ficam confinados numa sala.

A sala improvisada como cela onde o ex-ministro está preso há 84 dias tem um beliche, uma pequena mesa, televisão, frigobar e banheiro. Um dos poucos amigos que ainda mantém contato com a família de Anderson é o ex-deputado Fernando Francischini. “O Anderson é um preso político, pois até traficante o Supremo solta quando fica muito tempo detido”, diz.

Delação premiada

Nos últimos dias circularam rumores de que o ex-ministro estaria negociando um acordo de delação premiada com a Justiça. Em troca de benefícios legais, revelaria detalhes de um plano do então presidente Jair Bolsonaro para desacreditar as eleições e se manter no poder. Ele nega, seus advogados também, mas o fato é que pessoas próximas ressaltam que o delegado está emocionalmente fragilizado, doente e reclama de abandono.

“Ele está tomando remédios para o último nível de depressão”, diz o ex-deputado Fernando Francischini.

O estado de saúde de Torres está na origem das especulações sobre o acordo de colaboração. O boato ganhou força depois que os advogados do ex-ministro — radicalmente contrários ao instituto da delação premiada — deixaram o caso, sem uma razão aparente. A defesa foi assumida por Eumar Novacki, um ex-militar que também foi chefe da Casa Civil do governador Ibaneis Rocha.

O advogado sustenta que nos milhares de páginas do inquérito que tramita no STF não consta um único depoimento ou prova de que o ex-ministro tenha incentivado ou praticado qualquer ato golpista. Sobre a minuta de uma bizarra proposta de intervenção no TSE apreendida na casa do delegado, Novacki diz que o próprio Anderson já explicou que era documento apócrifo e seria descartado.

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