Sábado, 27 de Julho de 2024

Home Saúde Novo método consegue identificar o Alzheimer até 17 anos antes dos sintomas

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Na busca por métodos capazes de identificar a doença de Alzheimer de forma precoce, antes de causar os danos irreversíveis no cérebro, pesquisadores da Alemanha descobriram que alguns biomarcadores no sangue conseguem indicar o diagnóstico até mesmo 17 anos antes de os sintomas aparecerem. Os achados foram publicados na revista científica Alzheimer’s & Dementia, e os responsáveis acreditam que podem ser importantes para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para a doença.

Embora ainda não exista cura para o Alzheimer, quanto antes o quadro é identificado, melhor é o controle dos sintomas e mais lenta é a evolução da neurodegeneração. Geralmente essa forma de demência é confirmada pelos médicos por meio da avaliação clínica somente após o surgimento dos sinais. Porém, de acordo com os cientistas da Universidade de Bochum e do Centro Alemão de Pesquisa para o Câncer, isso pode acontecer até 20 anos depois do início da doença.

“Nosso objetivo é determinar o risco de desenvolver a demência de Alzheimer em um estágio posterior com um simples exame de sangue, mesmo antes que as placas tóxicas possam se formar no cérebro, para garantir que uma terapia possa ser iniciada a tempo”, explica o professor Klaus Gerwert, diretor fundador do Centro de Diagnóstico de Proteínas (PRODI) da Universidade Bochum, em comunicado.

Gerwert liderou o novo estudo, que utilizou uma técnica inédita com um sensor imuno-infravermelho, desenvolvido pela equipe da universidade, para detectar no sangue de pacientes a presença de biomarcadores ligados à proteína beta-amilóide.

“O Alzheimer é causada por placas de duas proteínas, a beta-amilóide e a tau. Elas se acumulam no cérebro levando ao processo neurodegenerativo, que promove o declínio das funções cognitivas. Em pesquisas, esses biomarcadores para a formação das placas eram avaliados por outros métodos mais complexos, como pelo exame de imagem chamado PET, mas recentemente estão saindo novos estudos com técnicas modernas de análise pelo sangue”, explica o neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) Adalberto Studart Neto, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

O novo trabalho alemão utilizou dados de uma pesquisa anterior, em que foram coletadas amostras de sangue de pessoas de 50 a 75 anos que não tinham diagnóstico de Alzheimer, no início dos anos 2000. Para a nova pesquisa, os cientistas chamaram de volta 68 desses participantes que desenvolveram o Alzheimer durante os 17 anos seguintes, e os comparou com 240 pessoas sem a doença. O objetivo era identificar os biomarcadores do quadro no sangue dos pacientes e, em seguida, analisar se eles já podiam ser detectados nas amostras iniciais, coletadas há quase duas décadas.

O novo sensor foi capaz de identificar a proteína ligada às placas beta-amiloide em 71% dos pacientes com a doença até nove anos antes de os sintomas aparecerem, e em 65% até 17 anos antes. Além disso, os cientistas observaram que a concentração da proteína de fibra glial (GFAP), outro biomarcador para o Alzheimer, também foi identificada já nas amostras de sangue de 17 anos atrás. A avaliação de ambos em conjunto demonstrou “uma forte capacidade de prever o risco clínico da doença”, escreveram os autores do estudo.

Eles acreditam que o sensor imuno-infravermelho desenvolvido pela equipe pode ser incorporado ao diagnóstico e reduzir os custos relacionados hoje aos exames existentes para identificar a doença. Além disso, a detecção precoce dos biomarcadores pode levar futuramente a intervenções médicas antes mesmo de os danos no cérebro serem formados, o que impediria a progressão do Alzheimer.

“Ao identificar os indivíduos com alto risco de desenvolvimento do Alzheimer, terapias modificadoras da doença podem ser administradas no início da progressão da doença, prevenindo assim o Alzheimer clínico sintomático”, defenderam os pesquisadores no estudo.

Eles citam, por exemplo, o Aducanumab, um remédio para o Alzheimer aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, para o tratamento da doença. Isso porque, embora ele tenha se mostrado capaz de diminuir as placas da proteína beta-amiloide e tau no cérebro, os participantes clínicos não tiveram melhoras significativas nos sintomas, o que levou a um questionamento sobre a real eficácia da substância.

O fato levou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) a não conceder o aval ao remédio. No Brasil, a Anvisa ainda não deliberou sobre a liberação do fármaco. Para os cientistas alemães, a pouca eficácia pode ser uma realidade pela remoção das placas não conseguir reverter os danos já causados ao cérebro, e avaliam estudar se o uso para pacientes com o diagnóstico precoce, anterior aos danos e aos sintomas, poderia prevenir a evolução da doença.

Para chegar a esse objetivo, os pesquisadores fundaram a empresa BetaSENSE e já patentearam o novo sensor . Eles pretendem, ao fim dos estudos clínicos, receber a aprovação das agências reguladoras para levá-lo ao mercado e incorporá-lo à prática clínica. Para eles, a novidade auxiliará até mesmo no desenvolvimento de novas drogas.

“O momento exato da intervenção terapêutica se tornará ainda mais importante no futuro. O sucesso de futuros testes com medicamentos (para o Alzheimer) dependerá de os participantes do estudo serem caracterizados corretamente (com a doença) e ainda não apresentarem danos irreversíveis no início dos testes”, afirma Léon Beyer, pesquisador da universidade alemã e também autor do estudo.

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