Quinta-feira, 02 de Maio de 2024

Home Esporte “Olimpíada dos dopados” terá atletas competindo sob efeito de substâncias proibidas em provas de atletismo, ginástica e outros esportes

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Atletas competindo sob o efeito de substâncias proibidas em provas de atletismo, esportes aquáticos, ginástica, força e combate. Essa é a ideia central do Enhanced Games (“Jogos Aprimorados”, em tradução livre), evento planejado pelo empresário e advogado australiano Aron D’Souza e financiado por bilionários do Vale do Silício, como o controverso Peter Thiel, cofundador do PayPal e ex-aliado de Donald Trump.

A promoção de uma competição desta natureza foi muito mal recebida pelos principais órgãos relacionados ao esporte. Em nota enviada ao Estadão, a Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) definiu o projeto como “perigoso e irresponsável” e alertou sobre os riscos de promover abertamente a dopagem:

“Saúde e bem-estar dos atletas são prioridades da Wada. Um evento nesses moldes colocaria ambos em risco, promovendo o abuso de substâncias e métodos que só deveriam ser prescritos para necessidades terapêuticas específicas e sob supervisão de médicos capacitados. Como temos visto na história, drogas que melhoram o desempenho causam terrível impacto físico e mental. Alguns morreram. Atletas são modelos e acreditamos que esse evento enviaria um sinal errado aos jovens”.

A agência deixa claro que atletas que participarem do Enhanced Games, caso de fato aconteçam, estarão correndo o risco de violar o Código Mundial Antidopagem e, portanto, sujeitos a punições. O nadador australiano James Magnussen, dono de dois bronzes e uma prata olímpica, já afirmou que estaria disposto a participar da “Olimpíada dos dopados” para tentar bater o recorde dos 50 metros, do qual o brasileiro Cesar Cielo é detentor, com o tempo 20seg91.

“A Wada alerta atletas e suas equipes, que desejam participar em desporto limpo, que se participarem dos ‘Jogos Aprimorados’, correriam o risco de cometer violações das regras antidopagem do Código Mundial Antidoping. Também colocariam a sua reputação em risco, pois poderiam ficar para sempre associados ao doping. Para ser claro, a entidade incentivará as organizações antidoping em todo o mundo a testar os atletas envolvidos antes, durante e depois deste evento, a fim de proteger a integridade do desporto legítimo”, afirma.

Dinheiro

Em seu site oficial, o Enhanced Games diz estar “reinventando o esporte a partir de uma folha em branco, livre de legados anacrônicos” e se coloca como oposição à tradicional Olimpíada, referindo-se também à remuneração milionária prometida aos atletas. O tom adotado é de desafio ao Comitê Olímpico Internacional (COI) .

“Apoiada por bilionários e pelas principais empresas de capital de risco do mundo, a Enhanced será capaz de se autofinanciar”, diz. “Rejeitamos a cleptocracia das chamadas federações desportivas ‘sem fins lucrativos’. O pagamento insuficiente aos atletas é a principal falha moral do Movimento Olímpico; é um vestígio do sentimento aristocrático por trás da ultrapassada exigência de ‘amador’ não remunerado.”

Embora não fale em números, a organização do Enhanced Games promete um salário-base aos participantes e prêmios maiores do que qualquer outro evento comparável na história. Detalhes completos da estrutura de remuneração, assim como datas, serão revelados ainda no primeiro semestre deste ano. Ao New York Post, Aron D’Souza disse que divulgará mais informações no dia 17 de abril. Ele também estará em Paris, entre julho e agosto, durante a Olimpíada, para promover seu evento.

Nas Olimpíadas tradicionais (sem doping), atletas não recebem premiação em dinheiro do COI e a remuneração fica a cargo das entidades nacionais. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pagará R$ 350 mil aos medalhistas de ouro em esportes individuais nos Jogos de Paris, neste ano. Para prata e bronze, serão R$ 210 mil e R$ 140 mil, respectivamente. A premiação é recorde e 40% superior aos Jogos de Tóquio.

Marcelo Franklin, advogado referência internacional em antidoping e professor do assunto no Instituto Superior de Direito e Economia de Madri, acredita que um debate sobre a remuneração dos atletas é um dos poucos desfechos úteis que a proposta de D’Souza e seus financiadores pode trazer. Franklin identifica, entre os atletas, a percepção de que deveriam ser mais bem remunerados, levando em conta os altos valores dos contratos de venda de direitos de transmissão de grandes eventos, como a Olimpíada.

“Nem acredito que o projeto Enhanced Games saia do papel. Um evento no qual seres humanos comprometem a saúde, para bater recordes em troca de altas quantias, além de imoral, pode ser considerado ilegal em alguns países. O debate serve para alertar o COI sobre a necessidade de destinar uma maior “fatia do bolo” aos atletas, bem como adotar um sistema antidopagem com sanções mais justas e proporcionais às violações, sob pena de perder suas estrelas para organizações despreocupadas com a saúde e o fair play, como a Enhanced Games”, diz o advogado.

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