Sexta-feira, 04 de Outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 1 de maio de 2024
Um dos principais escritores norte-americanos contemporâneos, Paul Auster morreu de complicações provocadas por um câncer de pulmão em sua casa, no Brooklyn, em Nova York, na noite de terça-feira (30). Ele estava com 77 anos e tratava da doença desde 2022. Foi um processo doloroso, embora corajoso.
Auster estabeleceu-se como “estrela literária” a partir dos anos 1980, quando Nova York – mais especificamente o bairro do Brooklyn – se tornou uma espécie de personagem em grande parte de seu trabalho. É justamente a metrópole que inspira Trilogia de Nova York (1987), formada pelas obras “Cidade de vidro”, “Fantasmas” e “O quarto fechado”, todas publicadas pela Companhia das Letras, que edita sua obra no Brasil. Ali, a cidade se torna a imagem de um labirinto mental feito de crimes e violência, pistas falsas e verdadeiras, acasos e equívocos. Foi seu primeiro sucesso internacional.
O romancista já havia chamado atenção antes com “A invenção da solidão” (1982), livro de memórias em que as recordações da infância e dos primeiros anos como escritor se entremeiam com uma profunda reflexão sobre a paternidade, o acaso e a literatura. A hábil transição entre ficção e não ficção logo despertaram a atenção da crítica. “Auster aperfeiçoou um estilo límpido e confessional, depois usou-o para colocar heróis desorientados em um mundo aparentemente familiar, gradualmente impregnado de inquietação crescente, ameaça vaga e possível alucinação”, observou Michael Dirda, no “The Washington Post”.
Na década de 1990, Auster trabalhou em Hollywood escrevendo vários roteiros, alguns dos quais dirigiu. Estreou com “Cortina de fumaça” (1995), repleto de reflexões filosóficas e conduzido por Wayne Wang, com quem dividiu a direção em “Sem fôlego” (1995), que contou com a participação especial de Madonna, entregando um telegrama atrevido. Auster escreveria e dirigiria ainda “O mistério de Lulu” (1998) e “Kimera – Estranha sedução” (2007).
A busca por identidade e significado pessoal marcou as obras seguintes de Auster, muitas das quais se concentraram fortemente no papel da coincidência e dos eventos aleatórios (“A música do acaso”) ou, cada vez mais, nas relações entre as pessoas e seus pares e ambiente (“O livro das ilusões” e “Palácio da lua”).
Auster continuou conquistando público e crítica com “Leviatã” (1992), sobre um autor que investiga a morte de um amigo que se explodiu enquanto construía uma bomba; e “O livro das ilusões” (2002), a respeito de um biógrafo que explora o misterioso desaparecimento de uma estrela do cinema mudo.
Últimos lançamentos
No Brasil, seu mais recente livro publicado é “4 3 2 1”, de 2018, tijolaço que, na versão física, soma 816 páginas, ou pouco mais de um quilo. “É meu livro mais ambicioso, mais realista, no qual abri mão de truques literários. A novidade está na estrutura”, contou ele, em entrevistas na época.
O livro acompanha a trajetória de Archie Ferguson, desde seu nascimento em 1947 até 1970, quando o romance tem um final que se pode considerar abrupto. Engana-se, porém, quem espera por uma narrativa cronológica – a grande sacada de Auster é de apresentar quatro variantes possíveis da história do protagonista. Na verdade, são quatro caminhos que indicam a riqueza estilística do autor que, aqui, surpreendeu com frases longas e envolventes.
Seu último livro, “Baumgartner”, publicado no final do ano passado e inédito no Brasil, foi criado em meio a dramas pessoais – além da luta contra o câncer, Auster sofreu em 2022 com a perda do filho Daniel, de 44 anos. Encontrado inconsciente em uma plataforma do metrô, ele morreu vítima de uma overdose de fentanil e heroína. “Quando alguém central em sua vida morre, uma parte de você também morre. Não é simples, você nunca supera. Você aprende a viver com isso”, disse ele ao jornal “The Guardian”.
“Baumgartner” narra a história de amor de 40 anos entre um casal desde o momento em que se conheceram em 1968 até a morte de um deles. Ciente de sua finitude, Auster usou a memória para lidar ficcionalmente com a doença e a solidão. “Por que nos lembramos de certos momentos de nossas vidas e esquecemos completamente de outros? Do que são feitas nossas histórias pessoais?” são questões que norteiam seu derradeiro livro.
No Ar: Pampa Na Tarde