Quarta-feira, 24 de Abril de 2024

Home Economia PIB per capita do Brasil deve voltar a cair neste ano e só recupera nível pré-crises em 2029, aponta FGV

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Mesmo com o crescimento da economia brasileira em 2021 e a superação de boa parte das perdas de 2020, ainda deve levar mais 7 anos para a população brasileira recuperar a renda e o nível de riqueza que tinha em 2013 – último ano antes das últimas crises, quando foi registrada a melhor marca histórica do Produto Interno Bruto (PIB) per capita no país.

A previsão é de levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O resultado oficial do PIB e do PIB per capita de 2021 será divulgado nesta sexta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os analistas estimam que a economia brasileira cresceu ao redor de 4,5%, após o tombo de 3,9% em 2020, enquanto que o PIB per capita cresceu um pouco menos.

O PIB per capita é o resultado da relação entre a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e o número de habitantes. Como o Brasil continua registrando crescimento populacional, quando há uma retração na economia, o nível de riqueza e renda da população costuma encolher de forma mais acentuada que o PIB.

O PIB per capital funciona como um termômetro para avaliar o bem estar e nível de renda de uma nação, apesar de suas limitações, devido às desigualdades do País e pelo fato das riquezas não serem distribuídas da mesma forma para toda a população.

Pelos cálculos do Ibre, o País precisaria crescer a um ritmo de pelo 3% ao ano daqui pra frente para retomar até 2026, ainda durante o próximo mandato presidencial, o patamar de riqueza e renda que vigorava antes do abalo da recessão de 2014-2016. Cenário considerado atualmente “quase impossível”.

O cenário base estima que só em 2029 o PIB per capita irá recuperar o nível de 2013, mas, para isso, o país precisa manter uma taxa de crescimento média anual da economia de 2,4%.

“A nossa projeção tem inclusive viés de baixa, uma vez que entendemos que 2022 e 2023 ainda serão anos difíceis. Voltar para uma média de crescimento de PIB de mais de 2% não é trivial. E, se a gente conseguir isso, é só em 2029 [que retoma o patamar pré-crises]. Ou seja, 16 anos depois do pico de 2013”, afirma economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre e autora do levantamento.

A pesquisadora estima que o PIB per capita terminou 2021 ainda 1% menor que o registrado antes da pandemia (2019) e 7,7% abaixo da máxima histórica de 2013.

Os economistas do mercado financeiro projetam atualmente um avanço de apenas 0,30% do PIB em 2022 e de 1,50% em 2023, bem abaixo da média global.

Risco de nova queda em 2022

Com a economia ainda patinando, aumento da incerteza global com a guerra na Ucrânia e juros em trajetória de alta para conter a inflação impondo freios para uma retomada mais firme, há o risco do PIB per capita voltar a registrar queda em 2022, mesmo com crescimento da economia no ano.

O cenário esperado pelo Ibre para o PIB em 2022 é um pouco mais otimista que o da média do mercado, de crescimento de 0,60%, mas ainda assim insuficiente para evitar uma queda do PIB per capita no ano, estimada em -0,1%.

“O PIB depende de com quantos você tem que dividir o bolo. No Brasil, a despeito do PIB ser baixo, a população ainda cresce. A expectativa do IBGE é que a população vai crescer em torno de 0,7% em 2022. Como a nossa projeção para o PIB é de um avanço de 0,6%, esse cálculo mostra que infelizmente não tem bolo para todo mundo”, explica Silvia Matos.

Na visão da economista, o que deve dar algum suporte à atividade econômica no ano deverá ser a continuidade do processo de normalização do setor de serviços, sobretudo nos segmentos de caráter mais presencial e de serviços públicos, em meio ao avanço da vacinação e flexibilização das medidas de restrição para conter a propagação do coronavírus.

“O ano de 2022 começa com uma herança muito ruim em várias frentes. Fechamos 2021 com uma inflação extremamente alta, persistente e espalhada, o que desafio muito o Banco Central a subir mais os juros. Continuamos com preços de commodities e energia elevados no mundo, temos tensões geopolíticas e temos eleições domésticas, o que já torna o ano conturbado”, destaca a pesquisadora do Ibre.

Os analistas têm alertado para um cenário de maior incerteza doméstica por conta do ano de eleições presidenciais.

“Num cenário de eleição, o investimento é prejudicado porque precisa de previsibilidade. Não sabemos quem será o novo governo. O que poderia ter um crescimento um pouco melhor seria o consumo, mas os juros subindo e inflação ainda forte tiram poder de compra das famílias. Então, não tem muito espaço para um crescimento do PIB per capita neste ano”, afirma Silvia.

Por ora, o Ibre projeta para 2023 um crescimento de 1,1% do PIB e avanço de 0,4% do PIB per capita.

Um avanço médio acima de 2% só é visto como possível a partir de 2024, o que corresponderia a um crescimento do PIB anual per capita em torno de 1,5%. Tal performance permitiria a atividade econômica retomar o nível o patamar do pico de 2013 a partir de 2024, ao passo que o padrão riqueza da população seria recuperado somente em 2029, com um ‘delay’ de 5 anos em relação ao PIB em valores correntes em razão do crescimento populacional desde o início das crises.

Brasileiros empobrecidos

Apesar do PIB não ser dividido da mesma forma para todos os brasileiros, uma série de indicadores mostram o empobrecimento da população, aumento da desigualdade e perda do poder de compra por conta da inflação.

Dados do IBGE mostra quem a renda domiciliar per capita caiu para R$ 1.367 em 2021 e que o rendimento médio do trabalho encolheu 10,7% em 1 ano, para a mínima recorde de R$ 2.447 no 4º trimestre do ano passado.

Já o salário médio de contratação encolheu para R$ 1.921 em 2021 e teve a primeira queda em 5 anos.

Mesmo com a queda do desemprego nos últimos meses, a recuperação do mercado de trabalho tem sido liderada pelo aumento da informalidade e por ocupações precárias ou por conta própria – os chamados bicos, de remuneração menor e muito variável.

“Não só estamos mais pobres em termos agregados, como observamos uma economia ainda sofrendo cicatrizes da crise da pandemia, pois o choque infelizmente é muito heterogêneo entre setores e trabalhadores. Portanto, é um cenário ainda muito desafiador voltarmos a um padrão de crescimento de renda e de consumo do pré-pandemia”, destaca a coordenadora do Ibre.

Histórico de baixo crescimento

O maior desafio do Brasil é conseguir retomar uma trajetória de crescimento constante e sem interrupções.

É importante destacar que o fraco desempenho observado na última década não é resultado apenas da pandemia, mas também da dura recessão registrada entre o fim de 2014 e 2016 e da fraca retomada nos três anos seguintes.

De 1981 a 2021, a taxa de crescimento médio do PIB per capita foi de apenas 0,7% ano, de acordo com o levantamento do Ibre. A última década (2011 a 2020) foi a pior da história, com uma retração média de 0,6% ao ano, um resultado ainda pior que o registrado na década de 1980, quando o brasileiro ficou em média 0,4% mais pobre a cada ano. Considerando apenas o período de 2015 a 2020, a perda anual média foi de 2%.

Para o País romper o histórico de baixo crescimento e acelerar a retomada, a economista do Ibre lista a necessidade de uma agenda que inclua:

  • controle da inflação e consequente redução da taxa de juros e melhora do custo do crédito;
  • equilíbrio das contas públicas e volta do registro de superávit primário por parte do governo (já são 8 anos seguidos de contas no vermelho);
  • redução das incertezas políticas e fiscais;
  • melhora da confiança de empresários e maior criação de vagas formais de trabalho;
  • avanço da agenda de reformas como a tributária e da melhoria do ambiente de negócios

“Não existe bala de prata para o crescimento econômico, mas o se Brasil destaca negativamente em vários aspectos. Reformas são difíceis de serem feitos porque sempre há perdedores, mas uma reforma tributária poderia ajudar muito a penalizar menos as empresas produtivas, assim como uma agenda de eficiência econômica, abertura comercial e de aumento da produtividade”, diz Matos.

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