Sábado, 14 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 2 de novembro de 2024
Na semana passada, o presidente da Argentina, Javier Milei, comemorou seu aniversário de 54 anos e uma das cartas que recebeu foi enviada pelo presidente da China, Xi Jinping, a quem o argentino pretende visitar em janeiro. Depois de ter afirmado, durante a campanha eleitoral de 2023, que não faria “pactos com comunistas”, referindo-se especificamente à China, Milei deu um giro de 180 graus. A aproximação entre China e Argentina preocupa os Estados Unidos, e, também, o Brasil.
O Itamaraty vem acompanhando de perto os movimentos do chefe de Estado argentino, de olho especialmente no potencial de crescimento da corrente de comércio bilateral, uma ameaça permanente para os produtos brasileiros no mercado argentino.
Neste ano, em consequência da forte recessão que assola a Argentina (a previsão de queda anual do PIB é de 3,5%), as importações tanto brasileiras como chinesas sofreram forte retração.
A expectativa, no entanto, é de uma gradual recuperação da economia argentina a partir de 2025 e, quando esse momento chegar, o governo brasileiro, admitiram fontes oficiais, teme uma concorrência feroz com a China, hoje segundo principal parceiro comercial da Argentina, superado apenas pelo Brasil.
Nos primeiros seis meses de 2024, as importações de produtos brasileiros na Argentina despencaram 37,3%. Já no caso da China, entre janeiro e agosto, as exportações para o mercado argentino caíram 32,6%.
O cenário é adverso para ambos, e o foco do Brasil, diz o embaixador do país em Buenos Aires, Julio Bitelli, é “recuperar níveis históricos de nosso comércio bilateral”. “Entre 2010 e 2011, nosso comércio com a Argentina chegou a US$ 40 bilhões. No ano passado foi de 23 bilhões de dólares. O Brasil ainda é o principal parceiro comercial da Argentina”, afirma o embaixador.
Ameaça
Perguntado pelo crescimento da China nas últimas décadas, Bitelli admite que o país “está ganhando espaço”, e, num cenário de abertura total da economia argentina, como defende Milei, esse espaço tende a ser maior.
Entre 2003 e 2023, a corrente de comércio entre Argentina e China cresceu mais de 500%. Nesse período, as exportações argentinas para o mercado chinês aumentaram mais de 100%.
Já as vendas da China para a Argentina registraram um crescimento de cerca de 1.900%. No mesmo período, as importações de produtos brasileiros na Argentina aumentaram em torno de 270%.
“A China foi e continua sendo o grande competidor do Brasil na Argentina”, aponta o economista Dante Sica, ex-ministro da Produção do governo de Mauricio Macri (2015-2019).
“Milei pode ter dito o que disse em 2023, mas agora ele é presidente e deverá manter um equilíbrio. Hoje, 70% do comércio dos países da região são com país de outras regiões, e a China é um grande parceiro comercial de todos”, frisa Sica.
Sinal de alerta
Neste mês, a decisão do governo Milei de baixar tarifas de importação para cerca de 80 produtos acendeu uma luz amarela no governo brasileiro. A medida poderá beneficiar produtos chineses em setores nos quais o Brasil ainda detém uma liderança, sobretudo em matéria de produtos industrializados.
A abertura da economia argentina, pilar do programa econômico de Milei, é vista como oportunidade pelo Brasil, mas também como desafiadora, sobretudo pela concorrência chinesa.
A relação com a China ganhou relevância para a Argentina desde que o país renovou o swap com o Banco Central argentino, socorrendo o governo Milei em momentos de dificuldade de acesso a qualquer outro tipo de financiamento.
A Casa Rosada está em plena negociação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para rever o acordo atualmente em vigência, e o socorro dos chineses foi fundamental para cobrir necessidades de financiamento.
Fiel a seu estilo direto e sem rodeios, Milei disse recentemente em entrevista a um programa de TV local que “a China é um parceiro muito interessante, porque não exige nada, a única coisa que quer é não ser incomodada”. As informações são do jornal O Globo.
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