Sábado, 18 de Maio de 2024

Home em foco Quando era presidente dos Estados Unidos, Nixon tentou convencer soviéticos que usaria bomba nuclear

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A cúpula das Forças Armadas dos Estados Unidos recebeu uma ordem surpreendente em outubro de 1969: intensificar seus preparativos para um possível enfrentamento contra a União Soviética.

Aviões bombardeiros B-52 do Pentágono foram carregados com armas nucleares e 18 deles levantaram voo na costa oeste dos EUA. Eles atravessaram o Alasca e voaram perto do território soviético antes de regressarem.

Esse alerta nuclear foi ordenado pelo então presidente americano Richard Nixon (1969-1974) e realizado secretamente, embora parecesse inevitável que Moscou e seus aliados observassem a ação dos EUA.

Em meio à Guerra Fria e atolado na Guerra do Vietnã, Nixon pretendia fazer seus inimigos acreditarem que ele estava disposto a usar força excessiva, até mesmo nuclear. Seu chefe de gabinete, H. R. Haldeman, revelou anos depois como Nixon explicava essa ação: “chamo de ‘teoria do louco’”.

Muitas pessoas se lembraram desse momento histórico nas últimas semanas, depois que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, colocou em alerta suas forças de dissuasão nuclear após invadir a Ucrânia em fevereiro.

Mas o que é a teoria do louco e quais os resultados obtidos pelos líderes que a colocaram em ação?

“O botão nuclear”

Especialistas indicam que os antecedentes dessa estratégia podem remontar a cinco séculos atrás, quando Nicolau Maquiavel escreveu que “às vezes, é muito sábio simular loucura”.

Na era moderna, a teoria foi apresentada em 1959 pelo ex-analista militar americano Daniel Ellsberg, estudioso das estratégias nucleares. Ele viria a ficar conhecido posteriormente pelo vazamento dos documentos secretos dos EUA sobre a Guerra do Vietnã, conhecidos como os Papéis do Pentágono, em 1971.

Ellsberg afirmou que o líder de um país poderia fazer ameaças mais eficientes a outra nação se fosse considerado louco pelos demais.

Mas quem criou o nome “teoria do louco” foi Nixon, segundo o livro The Ends of Power (“Os objetivos do poder”, em tradução livre), escrito pelo seu ex-chefe de gabinete, Haldeman, depois que ambos caíram em desgraça com o escândalo Watergate.

Segundo Haldeman, o presidente falou em seguida em fazer correr o boato de que ele estava obcecado com o comunismo, que seus nervos eram incontroláveis e que ele tinha sempre “a mão sobre o botão nuclear”.

“Quero que os norte-vietnamitas acreditem que atingiram o ponto que me levaria a fazer o que fosse necessário para ganhar a guerra”, disse Nixon a Haldeman, segundo os relatos do chefe de gabinete.

Desde que assumira a Presidência, em janeiro de 1969, com Henry Kissinger como conselheiro de segurança nacional, Nixon tinha como objetivo negociar o fim da guerra contra o governo socialista do Vietnã do Norte em termos favoráveis para os EUA.

“Provavelmente, [Nixon] acreditava que, se pensassem que ele estava a caminho da loucura, acreditariam que ele faria qualquer coisa para terminar a guerra, até mesmo usar armas nucleares”, segundo Roseanne McManus, professora de ciência política e assuntos internacionais da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA, que escreve no momento um livro sobre a teoria do louco.

Mas, se essa foi a aposta, o resultado foi diferente do que Nixon desejava. “Parece que os soviéticos e seus aliados norte-vietnamitas não se deram conta de que ele estava tentando dar sinais de loucura ou simplesmente não acreditaram que ele fosse realmente louco”, segundo McManus.

A professora acrescentou que isso aconteceu porque, em outras interações com os soviéticos, Nixon agia com prudência, o que poderá ter tornado sua tática para o Vietnã menos convincente.

Faca de dois gumes

É difícil saber com precisão o que havia de real ou duvidoso no comportamento de Nixon.

Documentos revelados pelos EUA destacam que, naquele momento, a Casa Branca considerou a opção de empregar armas nucleares contra o Vietnã do Norte. Mas o próprio Nixon afirmou, anos depois, que descartou essa opção para evitar uma escalada da guerra em massa.

Mais recentemente, o ex-presidente americano Donald Trump despertou suspeitas de uso da teoria do louco contra a Coreia do Norte em 2017, quando advertiu que responderia com “fogo e fúria” se aquele país ameaçasse os EUA. Posteriormente, Trump reuniu-se pessoalmente com o líder norte-coreano Kim Jong-un – o primeiro encontro entre líderes das duas nações em 70 anos – mas o arsenal nuclear de Pyongyang continuou aumentando.

Diversos analistas vêm comparando o comportamento de Putin durante a invasão da Ucrânia com as ações de Nixon e Khrushchev. Mas McManus argumenta que, frente a situações de alto risco, os dois líderes do passado reagiram com prudência, por mais que tentassem fingir loucura. Não é o mesmo caso agora, na visão dela.

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