Sábado, 20 de Abril de 2024

Home Mundo Saiba como a Europa vai reagir se a Rússia cortar o fornecimento de gás

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A cada quatro anos, a Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Gás é obrigada a realizar uma simulação de quadros catastróficos. No mais recente exercício desse tipo, no ano passado, os técnicos da empresa reuniram desastres e mais desastres em uma simulação e concluíram que “a infraestrutura de gás europeia oferece flexibilidade suficiente para garantir o fornecimento de gás aos países-membros da União Europeia”.

Mas os gestores do sistema de gás não levaram em consideração o espectro que agora ronda a Europa. O que aconteceria se Vladimir Putin invadisse a Ucrânia novamente, e o Ocidente reagisse com sanções contra a Rússia, ao que Putin responderia com o fechamento de todos os gasodutos que levam o gás russo ao Ocidente?

Faz tempo que o senso comum diz que uma interrupção completa do gás vindo da Rússia, que responde por cerca de um terço do gás consumido na Europa, seria impensável. Thane Gustafson, autor do livro Klimat, uma ponderada análise da energia russa, observa que, mesmo no auge da Guerra Fria, a União Soviética não suspendeu a exportação de gás. E, durante a mais intensa disputa da Rússia com a Ucrânia envolvendo o gás, em 2009, somente o gás enviado para o território ucraniano foi afetado, e ainda assim, brevemente. Mas uma interrupção no fornecimento deixou de ser impensável. Agora, Gustafson diz: “Não considero improvável que Putin, de fato, feche a torneira do gás por causa da Ucrânia”.

Perdas

Diferentemente de seus antecessores soviéticos, o presidente russo pode suportar o custo de um breve choque energético. Jaime Concha, da Energy Intelligence, que publica informações do setor, fez as contas. Sem levar em consideração as multas (por quebra de contrato, por exemplo) e tomando por base o preço médio diário observado em 2021, ele calcula que uma interrupção total do gás fornecido à Europa custaria à Gazprom algo entre US$ 203 milhões e US$ 228 milhões por dia em receitas perdidas. Assim, se tal embargo durasse três meses (o poder de influência de Putin diminui na primavera, quando a demanda por gás se torna apenas 60% da observada em janeiro), as perdas chegariam a aproximadamente US$ 20 bilhões.

Uma perda dessa dimensão seria devastadora para a frágil economia soviética, que dependia muito do dinheiro ganho com a venda de gás para o Ocidente. Mas hoje a Rússia dispõe de aproximadamente US$ 600 bilhões em reservas no seu banco central, podendo facilmente suportar tal golpe. E a Rússia poderia até sair em vantagem financeira, pelo menos no curto prazo. A simples ameaça de invadir a Ucrânia já fez aumentar os preços do gás e do petróleo (este último o responsável pela maior parte da receita que a Rússia obtém com seus recursos energéticos, e não o gás).

Na ausência de uma guerra, o banco JPMorgan Chase prevê que os preços mais altos levarão a Gazprom a obter mais de US$ 90 bilhões de lucro operacional este ano, forte alta em relação aos US$ 20 bilhões observados em 2019.

Se a Rússia de fato usar seu gás como arma, qual seria o estrago para o Ocidente? Se a interrupção se limitar ao gás enviado através do território ucraniano, como ocorreu em 2009, o restante da Europa não teria grandes problemas. Por sinal, a Gazprom já reduziu o fluxo de gás que chega via Ucrânia. O banco Citigroup calcula que este seja equivalente à metade do nível observado no ano passado, e um quarto do nível de 2019.

Interrupção total

E quanto ao possível pesadelo da interrupção total do fornecimento de gás para a Europa a mando de Putin? Alguns problemas de fornecimento seriam prováveis, o que não surpreende. As regiões mais afetadas seriam, provavelmente, Eslováquia, Áustria e partes da Itália, segundo David Victor, da Universidade da Califórnia. Dos grandes países europeus, a Alemanha é o mais vulnerável. Em razão de políticas motivadas pela mudança climática, prevendo o fechamento de usinas de carvão e a decisão imprudente de fechar prematuramente suas usinas nucleares, na esteira do desastre de Fukushima, no Japão, a Alemanha depende mais do gás natural do que seria necessário. O país é o maior consumidor de gás da Europa, dependendo dele para cerca de um quarto do seu consumo total de energia, e com a Rússia fornecendo mais da metade das importações alemãs de gás.

Diplomatas americanos e europeus estão correndo para garantir uma produção maior de gás natural liquefeito, que seria transportada à Europa por grandes empresas dos EUA e do Catar, mas isso é um teatro político. Michael Stoppard, da firma de pesquisas IHS Markit, calcula que há pouca capacidade de produção ociosa fora da Rússia e o “suprimento de resposta rápida” disponível nos EUA não poderia ajudar muito a Europa, pois “suas instalações exportadoras já estão operando na capacidade máxima”.

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