Sexta-feira, 20 de Junho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 24 de outubro de 2023
Massa, o governista, amparado por marqueteiros ligados a Luiz Inácio Lula da Silva, aposta em se apresentar como defensor da democracia. Milei, o libertário antiestablishment, tentará moderar pelo menos em parte o discurso para ganhar os votos do centro.
A chave, segundo analistas, serão os 23,8% dos votos de Patricia Bullrich, opositora de centro-direita ligada ao ex-presidente Mauricio Macri. Ela ficou em terceiro lugar – Massa teve 36,7% e Milei, 30%. Em discurso ainda na noite de domingo, Bullrich negou apoio a Massa e não citou Milei. “Não sou eu quem vai felicitar a volta ao poder de alguém que fez parte do pior governo da história da Argentina”, disse.
Ainda que sem apoio formal, Massa e Milei precisam atrair o eleitorado de centro-direita, segundo analistas ouvidos pelo Estadão. E ambos já começaram a recalibrar suas campanhas. “Assessorado pelo pessoal próximo de Lula, Massa venderá a ideia de que ele representa a defesa da democracia”, disse o cientista político Fabian Calle, da Universidade Católica Argentina (UCA).
“É um erro pensar que a próxima fase tenha relação apenas com o peronismo, vamos formar um governo de união nacional”, disse Massa. Trabalham na estratégia de sua campanha os marqueteiros Raul Rabelo e Otávio Antunes, que participaram da campanha presidencial de Fernando Haddad, em 2018 – ambos teriam sido indicados por Sidônio Palmeira, que liderou a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro, em 2022.
Para Lourdes Puentes, diretora da Escola de Política e Governo da Universidade Católica Argentina, o resultado do governista surpreendeu não só pela crise, mas pela capacidade de Massa de passar uma mensagem de força institucional. “Ele acertou ao se apresentar como alguém teve coragem de pegar o comando da economia”, disse. “Ele mobilizou o aparato político, que reagiu à possibilidade de vitória de Milei, que vinha questionando tudo.”
Desafio
No córner oposto está Milei, que tende a abdicar do extremismo. O caminho mais óbvio é amenizar o discurso para conquistar os moderados, o que se tornou um desafio para alguém que radicalizou na campanha. A maneira mais fácil de ganhar a centro-direita é se colocar como candidato antikirchnerista – grupo leal à vice-presidente, Cristina Kirchner.
“Tenho uma boa relação com Macri. Estou disposto a ouvi-lo”, disse Milei. A questão agora, segundo analistas, é saber se ele conseguirá o voto dos que estão insatisfeitos com o governo, mas que, ao mesmo tempo, temem suas promessas de dolarização e de acabar com o Banco Central.
Para Lourdes Puentes, a mensagem de Milei ainda não se conecta com grupos essenciais da sociedade, que buscam mais direitos e bem-estar social. “Na Argentina, apesar da reação à classe política, a população parece convencida de que o Estado é necessário. Massa usou esse discurso para apontar Milei como alguém que atacaria esses direitos.”
Carlos De Angelis, sociólogo e analista político argentino, disse que Milei “atingiu um teto” por causa de suas posições extremas. “A moderação, embora necessária, é um desafio para alguém que construiu uma imagem de demolidor da política tradicional. As posições extremas de pessoas próximas a Milei afastam o eleitor moderado de classe média e o voto das mulheres”, afirmou De Angelis. “A disputa será intensa. Milei quer atrair o apoio de Macri e Massa buscará os votos moderados.”
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