Terça-feira, 08 de Outubro de 2024

Home em foco Brasileiros repatriados de Israel lembram pedido de gerente de hotel para irem para bunker: “achamos que era brincadeira”

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Os estudantes Germano Augusto e Kamille Sara, de Araxá, estão entre os brasileiros resgatados de Israel no quarto avião enviado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para a região do conflito. Eles desembarcaram nesse sábado no Rio de Janeiro após cerca de 14 horas de voo vindo de Tel-Aviv.

O dois, que são namorados, contaram que estavam em um hotel quando os ataques começaram, no último sábado (7). “O gerente disse ‘todo mundo vai para o abrigo, está tendo ataque de bombas’. Nessa hora, achamos que era brincadeira, não caiu a ficha da gravidade da situação”, disse Germano.

Após uma série de alarmes e avisos em alto-falantes, os dois foram para um bunker, onde passaram a maior parte do dia. “Ao longo desse sábado, foram seis vezes entrando e saindo do bunker, com diferença de 30 minutos em cada. Nas últimas vezes, a diferença foi de cinco minutos”, explicou Kamille.

Sirene de ambulância

“O pequeno achava que era a sirene de uma ambulância passando, e o bunker era um lugar diferente aonde ele estava indo brincar”. O relato é da analista de dados Nathália Waksman, que faz parte do grupo de 207 brasileiros repatriados de Israel que desembarcaram na madrugada deste sábado (14) no aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Eles foram trazidos pelo avião KC-30, da Força Aérea Brasileira (FAB), na Operação Voltando em Paz.

As sirenes que o filho Uriel, de 2 anos, acreditava ser de ambulância eram, na verdade, estridentes alarmes para alertar sobre o disparo de foguetes feitos pelo grupo extremista Hamas.

Nathália atravessou neste sábado o portão de desembarque do aeroporto, empurrando um carrinho cheio de malas e os dois filhos israelenses, Uriel e Benjamim, de 5 anos. Depois de quase sete anos vivendo em Jerusalém, ela entendeu que era hora de pedir ajuda ao governo brasileiro e voltar para o Rio de Janeiro, onde mora a família dela.

“Foram dias intensos e tensos. A situação realmente está muito tensa, e eu não queria correr nenhum tipo de risco com meus filhos, sou sozinha com duas crianças pequenas, então eu quis sair para poder vir para o Brasil”, explica.

Corrida para bunker

Na última semana, por várias vezes ela teve que levar os filhos para um bunker. Algo fora da realidade de um brasileiro, bunker é uma espécie de abrigo, um quarto de segurança presente em muitos prédios e residências israelenses.

“Não tenho o quarto de segurança dentro de casa. Fica no subsolo do meu prédio, e o prédio não tem elevador. Então tinha que descer cinco andares de escada, toda vez que tinha sirene, com os dois [filhos], subir e descer toda hora. A gente teve muita [sirene] no sábado [passado]. Teve de novo na segunda. Esses dias teve uma vez também”, relembra.

“Nunca tinha passado por nada do tipo. Já tinha passado em outros momentos pela questão de foguetes, mas nunca de uma forma que eu me sentisse correndo risco do jeito que eu me senti agora. Foi a primeira vez que eu não me senti segura em Israel”, conta.

Família completa

A fotógrafa Luíza Santos chegou ao Brasil grávida. Além dela, o marido, um engenheiro israelense, também deixou Israel no voo da FAB. A Operação Voltando em Paz repatriou 701 brasileiros desde quarta-feira.

“Estou muito emocionada porque ver tudo isso que aconteceu nos últimos dias, eu fiquei com muito medo. Ter que voltar, vir para minha casa, deixar todas as nossas coisas lá, eu não sei como vai ficar. É tudo uma surpresa”, diz em um momento de choro.

“A gente viu as atrocidades que aconteceram esta semana, então é tudo muito complicado, nós estamos muito nervosos”, desabafa, antes de agradecer o governo brasileiro pela acolhida e transporte.

A operação organizada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) e pela FAB trouxe também para território brasileiro oito animais de estimação. Dois deles são os cachorros que acompanhavam Luíza e o marido.

“Não tinha como eu vir com o meu marido e deixar meus cachorros lá. E se alguém invade a nossa casa?”, pergunta a fotógrafa que tem família em Ribeirão Preto, no interior paulista, e estava havia nove anos em Israel.

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