Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Home Ciência Cientista brasileiro descobriu o maior cometa já visto no Universo: “Foi pura sorte, um acaso”

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Quando iniciou seu doutorado nos Estados Unidos, o cosmólogo Pedro Bernardinelli, de 27 anos, não esperava encontrar cometas. “A ideia não era essa. O que aconteceu foi sorte mesmo”, diz. Em abril deste ano, ele encontrou um enorme astro em uma tabela cheia de dados sobre objetos espalhados pelo Universo. Mas não apenas isso: era o maior cometa conhecido pela humanidade, cerca de 2,5 vezes maior que o detentor do recorde anterior.

Dias depois, o então cometa C/2014UN271 mudou de nome para Bernardinelli-Bernstein, homenagem ao cientista brasileiro e a seu orientador no doutorado, Gary Bernstein. “Houve um processo para a troca de nome, mas durou poucos dias. Me pediram para guardar segredo. Foi uma experiência engraçada”, conta.

O novo astro já tinha sido detectado pela primeira vez em 2014, mas havia poucos informações sobre ele. Até este ano, ele era apenas um pontinho luminoso em milhares de fotos do céu tiradas por telescópios que observam o universo. Por isso levava a alcunha provisória, um número. Agora, a partir da análise do brasileiro, sabemos que ele tem cerca de 4,5 bilhões de anos e um diâmetro de 150 km (distância entre Rio de Janeiro e Cabo Frio ou São Paulo e Bertioga), o maior já registrado.

Ele também está vindo na direção da Terra, mas não há com o que se preocupar. Os dados mostram que o cometa chegará ao ponto mais próximo do Sol em janeiro de 2031, e, ainda assim, será a uma distância de 11 UAs (cerca de 1,5 bilhões de quilômetros, próximo da órbita de Saturno).

“Uma piada que costumo contar: falar que esse objeto está vindo na direção da Terra não é errado, porque ele realmente está. Mas é a mesma coisa que falar que, toda vez que recebo meu salário, minha fortuna chega perto da fortuna do Silvio Santos. Tecnicamente está certo, mas não quer dizer que vai chegar lá”, brinca o cosmólogo.

Energia cósmica

O brasileiro integra o Dark Energy Survey (DES), uma iniciativa com estudantes de universidades de oito países, incluindo o Brasil. De maneira colaborativa, o objetivo do grupo “é mapear centenas de milhões de galáxias, detectar supernovas e encontrar padrões de estrutura cósmica que podem revelar a natureza da energia escura que está acelerando a expansão do Universo”, segundo site da iniciativa.

Segundo o DES, o cometa descoberto pelo brasileiro é “cerca de 1000 vezes mais massivo do que um cometa típico, tornando-o indiscutivelmente o maior cometa descoberto nos tempos modernos”.

O doutorado e o projeto de pesquisa de Bernardinelli tinham outro foco: medir o tamanho de galáxias e a influência da matéria escura no Universo.

Mas em uma análise com dados reunidos nos últimos seis anos, ele e outros colegas começaram a encontrar alguns “objetos transnetunianos”, astros que estão além da órbita de Netuno, o oitavo planeta do Sistema Solar.

“A grande graça desses objetos é que eles são uma espécie de entulho da formação do Sistema Solar, são os restos que foram chutados para longe. Vale muito a pena estudá-los porque, com eles, é possível reconstruir a história do Sistema Solar”, diz.

Neste ano, Bernardinelli se deparou com um cometa maior e um pouco mais próximo do que Netuno enquanto analisava uma tabela com milhares de números que representam astros detectados em imagens feitas por telescópios.

“Foi pura sorte, um acaso. Ele estava bem no limite do que era possível recuperar com os dados. Foi bem óbvio que era algo diferente”, conta.

O cometa logo chamou atenção da comunidade de cosmólogos por ser um típico astro vindo da Nuvem de Oort, uma região nos confins do Sistema Solar (depois de Urano e Netuno) e supostamente ocupada por bilhões de objetos que orbitam o Sol.

As órbitas desses astros são consideradas “excêntricas”: elas podem chegar muito perto do Sol e, em seguida, ficar extremamente distantes. A maioria dos cometas de ciclo longo, vindos da Nuvem de Oort, leva milhares e até milhões de anos para completar essa volta em torno da estrela.

No ano passado, um cometa chamado C/2002 F3 (Neowise), vindo da Nuvem de Oort, pôde ser visto da Terra durante o verão no hemisfério Norte. Foi uma oportunidade única, pois ele só passará novamente pelo planeta daqui a 6,8 mil anos.

Já o Bernardinelli-Bernstein, com uma órbita “achatada”, tem um caminho ainda mais demorado. “Sabemos que ele teve uma passagem dentro do Sistema Solar há cerca de 3,5 milhões de anos e que objetos como ele foram chutados para a Nuvem de Oort há 4,5 bilhões de anos. Então estimamos que ele tenha essa idade”, diz o cientista.

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