Sábado, 04 de Maio de 2024

Home Saúde Especialista em transplantes fala dos perigos de produtos como o chá que causou a morte de uma enfermeira e outras substâncias que afetam a saúde hepática

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Com 29 anos de prática em centros cirúrgicos, o médico paulistano Ben-Hur Ferraz Neto, professor da Universidade de São Paulo (USP) e doutor pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, é um dos maiores nomes no transplante de fígado do país. Ao longo da carreira, comandou 2.500 operações. Entre elas, o primeiro transplante multivisceral do Brasil, em 2012, de cinco órgãos ao mesmo tempo. Em entrevista, Ferraz Neto fala sobre o caso dramático da enfermeira Edmara Silva de Abreu, que morreu devido a uma hepatite fulminante causada pelo consumo de um chá emagrecedor, e de como se proteger de ataques tóxicos com potencial fatal.

1-Como um chá pode provocar a falência fulminante do fígado?

Chás não registrados na Anvisa, supostamente naturais, não devem ser consumidos de forma alguma. Produto sem registro não traz as substâncias que o compõem. Claro que um efeito grave tão veloz como ocorreu com a enfermeira, de insuficiência hepática provocada por uma hepatite fulminante, é raro. Mas casos assim são mais comuns do que se possa imaginar.

2-Quem corre mais risco de sofrer desse problema tão drástico?

O desenvolvimento da insuficiência hepática aguda causada por consumo de substâncias está associado à quantidade do produto ingerido, ao tempo de uso e ao tipo de substância. Mas cada organismo reage de um jeito, com seu tempo. Tem gente que pode usar algo do gênero e demorar décadas para desenvolver um problema. Outras podem ter uma insuficiente hepática em uma semana. Do ponto de vista teórico, todas as drogas cuja composição é desconhecida, que não têm registro dos órgãos de saúde nem supervisão de médicos na sua prescrição, podem levar à hepatite fulminante. Eu vi vários casos de pacientes tomando chá para emagrecer que desenvolveram hepatites sérias.

3-Como essas substâncias atacam o fígado?

Elas atacam as células do órgão, levando-as à morte. Quando essa morte é rápida, há uma drástica redução da capacidade funcional do fígado. Se esse comprometimento for de até 70% das células, ele vai aguentar quieto, sem sinais. Quando ultrapassa isso, sintomas começam a surgir. Os sinais da forma grave da doença, quando o órgão já está comprometido, são urina escura e as fezes claras. A pele também fica amarelada, podendo chegar ao esverdeado de tanta bilirrubina que se acumula no sangue. Na insuficiência hepática aguda, como foi o caso dessa paciente, há necrose quase total do fígado. O risco de um transplante não dar certo é maior. Quem não for transplantado de urgência tem mais de 90% de chance de óbito em uma semana.

4-A ausência de sintomas por tanto tempo eleva os riscos?

O fígado é a usina do corpo humano e um órgão muito traiçoeiro porque sofre de forma silenciosa. Quando grita, é tarde. Há duas situações que podem evoluir para uma insuficiência. Uma delas quando as células do fígado são lesionadas constante e progressivamente. Isso pode causar uma doença crônica que acaba se desenvolvendo num tipo de cirrose. A outra forma, mais grave e assustadora, porém menos comum, é a lesão hepática aguda, que é o que aconteceu à enfermeira. O que mais se vê, nesse caso, é por consumo de chás caseiros ditos emagrecedores

5-Quais substâncias desses chás podem agredir?

Para responder a essa pergunta, é preciso analisar quimicamente o produto. Mas só o fato de um chá prometer causar um rápido e brutal emagrecimento já é sinal de preocupação. Ele pode até ajudar na composição de uma dieta, mas não há poder milagroso. Muitos chás verdes vendidos sem marca possuem algo mais forte dentro. Há também a interação entre as substâncias. Pode haver, na mesma composição, itens cujos efeitos de uma potencializam a ação da outra. Isso aumenta a toxicidade.

6-Quando o check-up no fígado deve ser feito?

Precisamos estar muito atentos. Há recomendação de se fazer um check-up anual. De cada dez pessoas, três a quatro têm algum grau de gordura no fígado. Essas pessoas precisam de orientação, já que não existe uma medicação efetiva para isso. Elas precisarão ser orientadas a mudar os hábitos , como incluir exercício físico e algum tipo de dieta. Já aqueles que usam alguma medicação tóxica devem ser submetidas a uma inspeção laboratorial com frequência. Um exemplo comum é o tratamento de acne. A isotretinoína é uma substância sabidamente tóxica. Os médicos que a prescrevem devem fazer uma avaliação inicial da função do fígado e um acompanhamento periódico. Se houver sobrecarga, é preciso suspender para evitar um evento catastrófico. Os exames, em ambos os casos, incluem os de sangue para detectar os níveis de enzimas e a ultrassonografia. A dosagem baixa de plaquetas também pode ser um sinal de problema.

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