Domingo, 19 de Maio de 2024

Home em foco Para jovens, candidatos não se empenham na conquista de seus votos

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Aos 16 anos, Thalita Melo, moradora de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, já poderia exercer o direito de votar pela primeira vez em outubro — a participação dos eleitores de 16 a 17 anos é permitida, de forma facultativa, há mais de 30 anos no Brasil. Mas a falta de perspectiva sobre o cenário econômico do País e a ausência de identificação com um partido ou candidato a levaram a adiar sua estreia em eleições.

“Querer votar a gente até quer, mas a gente procura uma melhoria que nenhum candidato vai apresentar”, resume a estudante, que está atenta a pautas de direitos da mulher e das populações negra e LGBTQIAP+.

O relato de Thalita reflete um dos desafios de candidatos a cargos públicos no próximo pleito. Os políticos precisarão adaptar sua linguagem e enfrentar a descrença com a política tradicional se quiserem conquistar o voto de confiança dos mais jovens.

A pandemia e a preocupação com a economia ampliaram, às vésperas das eleições presidenciais, a desconexão dessa população com o sistema político. É o que apontam pesquisas e análises de especialistas sobre a percepção do processo eleitoral entre os mais jovens.

O impacto da desconexão com a política já é visível no eleitorado que não é obrigado a votar. O país registra sete meses antes do pleito a menor adesão de jovens de 16 e 17 anos ao alistamento eleitoral. Até fevereiro, pouco mais de 834 mil adolescentes tiraram o título de eleitor, o equivalente a apenas 13,6% dessa população.

O eleitorado dessa faixa despencou 62% nos últimos dez anos, em ritmo maior que o envelhecimento dos brasileiros — a redução da população adolescente foi de 16% no período, segundo projeções do IBGE. “Falta representatividade. Em Itaguaí, tem uma mulher só na Câmara, nenhum LGBT… Não vejo candidatos com chance de eleição levantando essas questões”, afirma ela.

Outro sinal está na percepção da própria democracia. Menos da metade da população entre 18 e 24 anos considera o regime político como um valor absoluto, segundo pesquisa do Instituto Ideia Big Data, com 1.269 entrevistados em todo o país entre 3 e 7 de março. O percentual registrado, de 38%, ficou abaixo do das demais faixas etárias. Além disso, a maioria dos jovens também disse confiar pouco (37%) ou não confiar (15%) na urna eletrônica.

Linguagem

A pesquisa aponta caminhos para os políticos atraírem esse eleitor. A busca por mais informação sobre o tema esbarra na percepção de que os partidos estão distantes e não sabem se comunicar. Para as novas gerações, acostumadas com a linguagem dinâmica dos influenciadores digitais, a comunicação da política tradicional é vista como “chata e envelhecida”. Estar nas redes, falar de forma lúdica e contemplar pautas e causas caras a esse segmento, como educação, lazer e temas identitários, são imprescindíveis.

A participação em podcasts é um exemplo de formato que atrai a atenção desse eleitor. Prestes a completar 16 anos e ainda sem clareza sobre em quem vai votar para presidente, o morador da Tijuca, no Rio, Enzo Moreno elogia tentativas de falar a língua dos jovens.

“Esses programas de podcast são bons porque são a maneira que eu vejo de muita gente da minha idade se aproximar desses assuntos.”

Outro fator que interfere na dificuldade dos mais jovens em se sentir representado é a economia, alerta o diretor do Ideia Big Data, Maurício Moura. Ao mesmo tempo, o tema pode motivá-los a participar da eleição. Ainda de acordo com dados do instituto, 83% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos pretendem comparecer às urnas. A maioria acha que o momento político é preocupante.

“Há um aspecto que vai além das fronteiras do Brasil que é a sensação de desconexão, principalmente entre os mais jovens, com a política tradicional. No Brasil, os partidos são organizações centralizadas. Mas há um aspecto pontual que é a economia: o desemprego, a renda, a inflação. Isso bate muito forte na juventude”, ressalta Moura.

A maioria do eleitorado que não é obrigado a votar, por enquanto, dá sinais de que não pretende participar. A baixa procura pelo título — o prazo para ter acesso ao documento acaba em 4 de maio — acendeu o alerta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que fez uma campanha. A tentativa de aumentar a adesão dos adolescentes ganhou ainda o impulso nas redes sociais de celebridades, como a cantora Anitta, a ex-BBB Juliette, a atriz Bruna Marquezine e o ator americano Mark Ruffalo.

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