Sexta-feira, 03 de Maio de 2024

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A campanha eleitoral está no ar. Com ela, volta ao cartaz um pluralzinho pra lá de especial. Uns o chamam de plural de modéstia; outros, de plural majestático. No fundo, no fundo, ele não passa de um enganador. É singular. Mas faz de conta que não está nem aí pro número a que se refere.

Truque

A pessoa usa nós, mas quer dizer eu. Assim, como quem não quer aparecer. Antes, o recurso era empregado por reis, papas e dignitários da Igreja. Daí o nome majestático. Depois, baixou de status. Oradores passaram a socorrer-se dele como expediente retórico. Só pra impressionar.

É o caso daquele político que, em comício na cidadezinha do interior, disse:

– Nós queremos ser bondoso e competente.

Reação

O povo se entreolhou. Pensou que o candidato tinha faltado às aulas de concordância. Talvez tenha. Mas, ali, o homem usou o plural de modéstia. Reparou? O verbo concorda com um sujeito de fachada (nós), mas o adjetivo, que não é bobo, concorda com o sujeito verdadeiro – eu. Parece erro de concordância, não? Em língua de gente sem disfarce, diríamos:

– Eu quero ser bondoso e competente (referência a uma pessoa).

– Nós queremos ser bondosos e competentes (referência a mais de uma pessoa).

Mais exemplos

Imagine estas frases na boca de Jair Bolsonaro. Elas servem como luva para o plural majestático:

– Nós somos presidente dos brasileiros. (Eu sou o presidente dos brasileiros.)

– Nós somos moderno e amigo do povo. (Eu sou moderno e amigo do povo.)

Moral da história

O pseudomodesto é pai dos tucanos. Fica no muro – meio cá, meio lá. O verbo vai para o plural. Os adjetivos e substantivo não.

Candidato

Sabia? Se depender da etimologia, candidato andaria de mãos dadas com os anjos. A latina quer dizer vestido de branco. Por quê? Na Roma dos Césares, o postulante a cargo eletivo punha roupa branca. Com a cor, que simboliza a pureza, o sabido vinculava a própria figura à ideia de inocência, lusura. Que tal?

Manter

“Se o técnico manter a equipe, o resultado será previsível.” Ops! Se manter? Nãoooooooooo! O futuro do subjuntivo sofre. E não é de hoje. A razão do martírio se chama semelhança. Em muitos verbos, o futuro tem a cara do infinitivo (se eu cantar, se eu vender, se eu partir). Mas, em alguns casos, a história muda de enredo. É bom, por isso, saber a formação de tempo tão sofisticado. Ele nasce do pretérito perfeito do indicativo. Mais precisamente: da 3ª pessoa do plural menos o -am final. Assim:

– Pretérito perfeito: eu mantive, ele manteve, nós mantivemos, eles mantiver(am).

– Futuro do subjuntivo: se eu mantiver, ele mantiver, nós mantivermos, eles mantiverem. Logo: Se o técnico mantiver a equipe, o resultado será previsível.

Presidente candidato?

Jair Bolsonaro é presidente candidato ou candidato presidente? Parece jogo de palavras. Mas não é. Questão semelhante quebrou a cabeça dos brasileiros no século 19. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis escreveu: “Não sou um autor defunto, mas um defunto autor”.

Ao afirmar “não sou um autor defunto”, Machado se disse diferente dos demais escritores. Camões, José de Alencar, Clarice Lispector, Nélson Rodrigues escreveram em vida. Morreram depois de publicar os livros. São autores defuntos. Brás Cubas fez uma mágica. Escreveu as memórias depois de morto. É defunto que virou autor. E Bolsonaro? É presidente candidato. Em outras palavras: presidente que se tornou candidato.

Leitor pergunta

Mikail Gorbachev morreu. O falecimento do líder soviético repercutiu no mundo todo.Na biografia dele, aparece que foi ganhador do Prêmio Nobel. Qual a pronúncia correta de Nobel? – Tatiana Maria, Recife.

Nobel se pronuncia como Mabel e papel. Oxítona, a sílaba tônica é a última.

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