Terça-feira, 30 de Abril de 2024

Home Saúde Teste da linguinha em bebês: obrigatório em maternidades, método é criticado por pediatras

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Uma grande e silenciosa polêmica circula pelas maternidades públicas e privadas do país: a obrigatoriedade do teste da linguinha nos recém-nascidos. Trata-se de um exame feito nos primeiros dias de vida do bebê que tem o objetivo de avaliar de forma precoce o diagnóstico da língua presa.

Mas o procedimento, validado pelo Ministério da Saúde desde 2014, tem ganhado uma rejeição cada vez maior dos pediatras. A Sociedade Brasileira de Pediatria, oficialmente contra a obrigatoriedade do exame, alega que ele leva a muitas cirurgias desnecessárias. Além disso, em diversas vezes o defeito detectado poderia ser corrigido com um ajuste na amamentação.

O método consiste no corte da membrana embaixo da língua, estrutura também chamada de freio. O bebê que sofre do problema tem o freio mais curto que o normal, o que restringe o movimento da língua e atrapalha a amamentação do recém-nascido. No entanto, os médicos apontam um aumento no número de indicações para o corte sem necessidade, expondo o bebê aos riscos de um procedimento cirúrgico.

O pediatra Daniel Becker, sanitarista do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um dos que apontam uma recomendação além do normal para a intervenção. Ele ressalta que a análise do caso normalmente precisa envolver outros fatores, como a saúde da própria mãe, para identificar se de fato a causa de problemas com a amamentação é um diagnóstico de língua presa ou não.

“Não há dúvida que o exame virou diagnóstico completamente excessivo e descontrolado. A obrigação do teste está gerando inúmeras propostas de cirurgia desnecessárias. Tem que haver uma melhora dos critérios de direcionamento para uma cirurgia. Ela só é válida quando os sintomas são muito evidentes”, afirma Becker.

Becker defende ainda que o Teste da Linguinha pode funcionar como um alerta para um posterior diagnóstico mais fundamentado, mas não como uma direta indicação cirúrgica.

Os defensores da regra, no entanto, afirmam não haver uma quantidade exacerbada dos diagnósticos, mas sim um reflexo da subnotificação ao longo dos últimos anos. “O problema foi subdiagnosticado durante muito tempo e agora as pessoas passaram a se atentar mais para essas alterações. Não estou dizendo que não pode ter o caso de profissionais que não sabem avaliar e fazem um diagnóstico errado, mas o mais importante na minha experiência é que antes os profissionais mal falavam sobre, e hoje ao menos se levanta a hipótese”, afirma a fonoaudióloga Roberta Martinelli, criadora do protocolo, e coordenadora do departamento de Motricidade Orofacial da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

Ela explica ainda que o protocolo envolve a observação de uma série de fatores, como o movimento da língua durante o choro, posição dos lábios no repouso e o formato da ponta da língua, e reforça que a intervenção é para facilitar a amamentação, recomendada de forma exclusiva durante os seis primeiros meses de vida do bebê pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Hoje se sabe que os movimentos de língua durante a amamentação são diferentes de um bebê com língua presa, o que pode levar à dor, à retirada insuficiente do leite da mama, a casos de engasgo, a um gasto maior de energia pelo bebê, que se cansam mais facilmente”, explica a fonoaudióloga.

Revogação da lei

Os pediatras concordam que nos casos confirmados da língua presa o corte no freio é indicado. No entanto, a Sociedade Brasileira de Pediatria chegou a pedir a revogação da lei que obriga o teste, em 2019, alegando uma baixa incidência da língua presa e que o diagnóstico aprofundado já faz parte do acompanhamento do neonatologista. O ação não foi acatada.

Como os protocolos para definir o problema no recém-nascido não são uniformes, a proporção real no número de casos é difusa. Em um estudo da Universidade de Pernambuco, por exemplo, a língua presa foi detectada em 4,8% dos recém-nascidos utilizando um protocolo britânico chamado BTAT, mas o índice subiu para 17% quando analisado por meio das diretrizes do Teste da Linguinha.

“O que esperamos é que não tenha um número exacerbado de intervenções. Precisamos ter em mente que às vezes se dá atenção demais ao freio lingual daquele bebê que não está mamando, mas não estão sendo analisados outros fatores que podem atrapalhar o aleitamento”, afirma a presidente do Departamento Científico de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renata Di Francesco.

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