Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Home Tecnologia Criptomoedas estão sendo usadas para atividades ilegais e precisam ser reguladas, diz professor da Universidade de Harvard

Compartilhe esta notícia:

O bitcoin e outros criptoativos normalmente são avaliados somente como um investimento altamente especulativo, mas eles estão sendo utilizados pelo mundo em grande medida como transações financeiras entre pessoas, na maioria dos casos em termos nacionais.

A constatação é de Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atualmente professor da Universidade Harvard, em entrevista ao Broadcast. Tal descoberta foi feita por ele e mais dois acadêmicos internacionais em um estudo recente que analisou 50 milhões de operações de criptoativos envolvendo 135 moedas de países durante 3 anos.

“Talvez um dos motivos de as pessoas fazerem transações com os criptoativos é que não querem que autoridades e outros cidadãos saibam os recursos que possuem, onde e de que forma foram obtidos”, comenta Rogoff.

O acadêmico reconhece que a maior preocupação relativa aos criptoativos é que são transacionados por pessoas que tentam fugir do pagamento de impostos sobre capitais. Ele também aponta que tais operações podem estar relacionadas a ilegalidades.

“Na China, há uma linha tênue entre o pagamento de tributos e o temor de que o governo vai confiscar os recursos dos cidadãos”, disse. “Na prática, estes ativos são utilizados como notas de cem dólares com esteroides.” Acompanhe os principais trechos da entrevista.

1) Quais são as principais conclusões do estudo que o senhor realizou recentemente sobre transações internacionais de criptoativos com Clemens Graf von Luckner e Carmen Reinhart?

O objetivo do estudo era analisar a avaliação comum segundo a qual o bitcoin e outros criptoativos são somente uma fonte de investimentos, uma espécie de ouro digital, e não são utilizados como meio de transações. Em teoria econômica, esta avaliação não faz sentido, dado que o uso final é que cria valor de uma mercadoria.

Contudo, avaliamos 50 milhões de observações relativas a transações de criptoativos realizadas em 3 anos e que envolveram 135 moedas de países. Pudemos saber o horário exato e onde ocorreram as operações, dado que foram realizadas com satoshis (são necessários 100 milhões de satoshis para formar um bitcoin) e são muito pequenas as chances de verificar duas operações idênticas.

Mas quando encontramos duas operações iguais, com alguns minutos entre elas, que não aparecem em nenhum outro lugar neste universo pesquisado, consideramos que é muito provável que elas representam uma transação entre dois agentes e não um investimento.

2) O estudo aponta que a grande maioria das transações em vários países, com destaque para Rússia e China, são operações nacionais. Qual é a principal suspeita do senhor sobre os motivos destas transações?

Na Rússia, certamente muitos oligarcas estão sob sanções internacionais de outros países, o que também ocorre com várias nações. Acredito que eles tentam evitar a vigilância financeira dos EUA. Em princípio, estas operações podem ser rastreadas, mas é preciso a permissão de autoridades para ter tal informação, que não é disponível para muitos países.

Talvez um dos motivos de pessoas fazerem transações com os criptoativos é que não querem que autoridades e outros cidadãos saibam os recursos que possuem, onde e de que forma foram obtidos. É uma questão de privacidade. Algumas das operações são remessas de recursos, que são muito mais baratas do que as realizadas pela Western Union e outras companhias.

3) Mas uma das principais razões para pessoas fazerem transações com criptoativos, como o senhor apontou, não seria tentar fugir do pagamento de impostos sobre capitais?

Em termos gerais, esta é a maior preocupação em relação ao bitcoin e outros criptoativos. Não sei se exatamente seria uma questão de impostos, mas pode estar relacionado com ilegalidades. Na China, há uma linha tênue entre o pagamento de tributos e o temor de que o governo vai confiscar os recursos dos cidadãos.

Em muitas vilas na Índia mulheres compram ouro como ativo de proteção, pois acreditam que o governo vai tomar seus recursos. Os criptoativos podem estar exercendo um papel semelhante.

Em alguns casos, podemos até ser favoráveis a este procedimento, mas é muito difícil apoiar tal comportamento em muitos países onde os impostos são estáveis e as leis são respeitadas. Na prática, estes ativos são utilizados como notas de cem dólares com esteroides.

4) O mercado de criptoativos tem uma capitalização próxima a US$ 2,3 trilhões, que tem alta volatilidade diária. O senhor acredita que ocorrerá uma correção em breve deste mercado, que para muitos analistas é uma imensa bolha financeira?

Depende da regulação, pois no momento estes ativos realizam arbitragem regulatória. Eu acredito que são necessários controles bem rígidos sobre transações em larga escala que estão ocorrendo em muitos países e não podem ser tolerado por eles.

Há uma imensa economia subterrânea no mundo, que ocorre também nos EUA. Na Itália, ela representa cerca de 25% do PIB, que no Brasil pode ser equivalente a 20% do PIB e chegaria a 15% do PIB na França e na Alemanha.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Tecnologia

Novo tratamento com células-tronco é aposta para rejuvenescer pele
Nasa está prestes a abrir amostra lunar coletada na missão Apollo 17
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa Na Madrugada