Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

Home em foco Crise na Ucrânia expõe mais uma vez divergências históricas entre Estados Unidos e Rússia

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A crise na Ucrânia expõe mais uma vez as divergências históricas. Veja como os lados têm se posicionado diante dos conflitos das últimas décadas.

Na época da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputavam também no esporte: basquete, hóquei, xadrez – jogo em que é fundamental dominar o centro do tabuleiro.

É assim a disputa agora entre Rússia e Otan, grupo militar de vários países ocidentais. Os Estados Unidos criaram a aliança em 1949 para segurar o avanço soviético depois da Segunda Guerra.

O presidente Vladimir Putin, no poder desde o ano 2000, sempre deixou claro que não engole essa história de a Otan e a União Europeia se aproximarem das ex-repúblicas soviéticas, vizinhas antigas de porta.

Em abril de 2005, Putin falou o seguinte no Parlamento lotado: “O fim da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século 20.”

Ele disse que o colapso do bloco, nos anos 1990, foi uma tragédia especialmente para os russos: “Dezenas de milhões de compatriotas passaram a viver fora do território da Rússia.” Ou seja: foi um golpe em laços históricos, religiosos e culturais.

Professor de História Internacional, o russo Vladislav Zubok, da universidade britânica LSE, considera que houve um momento em que os russos acreditaram que seriam bem recebidos na Europa, mas quando isso não aconteceu, ficou um ressentimento, e que Vladimir Putin soube explorar isso.

Nas últimas décadas, Putin viu várias das ex-repúblicas se aproximarem dos vizinhos ricos da outra ponta da Europa, atrás de segurança e de oportunidade de prosperar.

Em 2008, Putin chegou num impasse diplomático com a Geórgia, depois da eleição de um governo pró-Ocidente. Por terra, mar e ar, a Rússia promoveu um ataque que chamou de ‘imposição da paz’, para garantir a independência da região autônoma da Ossétia do Sul, culturalmente próxima da Rússia. A Ossétia do Norte faz parte da Federação Russa.

Em 2013, a Ucrânia negociava um tratado de associação com a União Europeia. Vladimir Putin pressionou e fez o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, desistir do acordo.

Incomodados, estudantes ucranianos – que adorariam fazer parte da União Europeia – foram para rua.

O protesto virou uma revolução sangrenta, com centenas de civis mortos, e o presidente caiu. Putin se assustou. “Uma revolução do lado de casa?” Precisava mostrar força.

Sem disparar um tiro, a Rússia anexou a Crimeia, península no Mar Negro que tem uma posição estratégica importantíssima, na ligação da Rússia com o Oriente Médio e com o Mar Mediterrâneo pela Turquia.

Acontece que ao se tornar independente, a Ucrânia havia herdado as armas nucleares da União Soviética, e chegou a ser a terceira maior potência nuclear do planeta.

Mas, em 1994, abriu mão do arsenal sob a garantia de que outras potências – Rússia, Estados Unidos e Reino Unido – respeitariam as fronteiras ucranianas, e as ogivas nucleares ucranianas voltaram à Rússia para serem desmontadas.

Com a anexação da Crimeia, a Otan afirma que a Rússia agiu ilegalmente, quebrando o pacto de não usar força contra seus aliados ou qualquer outro país.

Existem historiadores que dão razão a Putin, porque, por séculos, a Crimeia foi mesmo uma região russa. O regime soviético deu a península de presente para Ucrânia em 1954. Mas, num referendo logo depois da invasão, em 2014, quase 97% das pessoas na Crimeia escolheram fazer parte da Rússia.

Clima

Esta semana, na primeira coletiva em mais de um mês, Putin acusou os Estados Unidos de criarem um clima hostil, até mesmo incentivar uma guerra, para que vários países penalizem financeiramente a Rússia. Isso serviria, segundo Putin, ao propósito americano de prejudicar o desenvolvimento russo.

“Não se pode garantir a própria segurança às custas da segurança de outro país”, ele disse.

O impasse continua, por mais que esse clima de tensão possa esfriar, que com a ajuda de líderes da Europa a diplomacia fale mais alto, o assunto vai seguir em debate.

Rússia e Estados Unidos têm trocado cartas para tentar se entender. O governo russo tem três pedidos principais: quer um limite para o envio de soldados e armas para os países da Otan que ficam mais ao leste; que a aliança volte a ter o tamanho que tinha até 1997; e que a Otan garanta por escrito que a Ucrânia jamais vai fazer para o grupo.

Para a Otan, essa possibilidade não existe, porque o artigo 10º do tratado de fundação diz: “É uma aliança de portas abertas. Qualquer país europeu que quiser se filiar é bem-vindo.” Mas quem entra no grupo assina um termo em que reconhece que a aliança é exclusivamente de defesa e que não vai provocar a Rússia.

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