Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

Home em foco Crise na Ucrânia fortalece a Otan e abre espaço para Biden

Compartilhe esta notícia:

Com a tentativa de reduzir a influência da Otan, Vladimir Putin conseguiu colocar a Rússia no topo das prioridades da geopolítica global. Por outro lado, vem testemunhando o que não desejava: o fortalecimento da aliança atlântica, o alinhamento dos EUA com aliados europeus e o espaço dado ao democrata Joe Biden para liderar uma resposta à crise na Ucrânia.

O presidente americano teve sua capacidade de responder aos problemas mundiais colocada em xeque no ano passado, com uma conturbada retirada das tropas dos EUA do Afeganistão e desencontros diplomáticos com aliados europeus, especialmente como a França.

“A crise tornou a Otan mais unida, forte e relevante. Antes disso, víamos Biden lidando mal com o Afeganistão e Angela Merkel como uma voz forte na coordenação transatlântica. A Otan não tinha uma missão tão relevante. Agora, há uma mudança. O tiro de Putin tem saído pela culatra”, disse Ian Bremmer, fundador da consultoria de risco Eurasia Group.

Renascimento

Para Sérgio Amaral, ex-embaixador do Brasil nos EUA, Putin mostra que a Rússia não é um país que está no seu ocaso, como alguns americanos pensam. “A Rússia tem poderio militar, estratégia e disposição de defender seus interesses. Ela quer mostrar que está viva. A questão da Ucrânia está no centro da nova reconfiguração no equilíbrio de poder.”

Segundo Amaral, Biden pode sair fortalecido com a crise. “A política que ele propôs, a formação de alianças, em substituição às ameaças de Donald Trump, bem ou mal está funcionando”, afirma. “A questão é saber como cada um dos países sairá deste período de transição, em que há duas potências (EUA e China) e uma menor que está mostrando que precisa ser chamada à mesa de negociação.”

Bremmer diz que a China assiste com atenção os movimentos na Ucrânia. “Se os russos saírem disso com mais território e sem uma resposta substancial dos EUA, Pequim se sentirá em condições de fazer o mesmo em áreas importantes para eles”, disse o ex-embaixador.

Um risco apontado por Amaral é o dilema americano: ceder aos apelos da Rússia ou assistir a uma aproximação ainda maior entre Moscou e Pequim. Para o establishment em Washington, Putin tenta não apenas colocar suas condições na mesa de negociação para impedir o avanço da Otan, mas também desestabilizar o governo americano. “O objetivo é fazer Biden parecer fraco. Criar divisão nos EUA e influenciar as eleições americanas”, disse James Stavridis, ex-comandante da Otan, em entrevista ao Washington Post.

Unidade

No entanto, democratas e republicanos – pelo menos quando o assunto é Putin – parecem unidos no Congresso. A frase “Você está completamente certo” foi repetida mais vezes do que o normal em um debate nesta semana em Washington promovido pelo Wilson Center, entre senadores dos dois partidos.

“A intenção de Putin, de dividir os EUA, os aliados e a Otan está tendo o efeito oposto. Isto está unindo a Otan”, disse a senadora democrata Jeanne Shaheen. “Ela está absolutamente certa”, concordou Roger Wicker, colega republicano. O apoio à Ucrânia vem até de aliados de Trump, como o senador Ted Cruz.

“Os dois partidos concordam que os EUA precisam estabelecer defesas fortes, militares e econômicas, no caso de os russos optarem pela intervenção, ainda que pequena. Todos concordam que os europeus devem ser aliados. Ninguém quer dizer que concorda com o outro. Mas, se compararmos a situação atual com outras crises recentes, veremos que há consenso”, afirma Bremmer.

“A questão é o que acontecerá se Putin decidir escalar a situação, mas não invadir. Se houver invasão, será um cenário horrível, mas manterá a Otan unida. Mas o que acontece se, sem invasão, ele escalar os ciberataques, por exemplo? Até onde a Otan manterá a união?”, questiona o analista do Eurasia Group.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Conversas “secretas” dos Beatles foram reveladas pela inteligência artificial
Média de idade do investidor da Bolsa no Brasil cai para 38 anos
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Show de Notícias